Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010

setembro / outubro de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 37 EUGÊNIO BUCCI Jornalista, professor da ECA-USP e diretor do Cur- so de Pós-graduação em Jornalismo com Ênfase emDireção Editorial, a ser oferecido pela ESPM, em parceria com o Instituto de Altos Estudos em Jornalismo, a partir do ano que vem. PARTE VI O que ainda está por vir Emmeioaheterodoxias, reviravoltasevolteios, não há receita definitiva para disciplinar essa matéria. Antesde falarmosemprincípios–eeles são funda- mentais–observemosumdadocurioso, que revela algo sobre o modo de trabalho, sobre a operação das publicações mais ou menos jornalísticas. A despeito de tantas variações, mesmo no mundo das celebridades ou na transmissão de eventos esportivos pelo rádio e pela televisão, preserva-se, emalgumnível, uma separação operacional entre duas alas. O comercial se ocupa da prestação de serviços aoanunciante, enquantooeditorial sede- dica amanter satisfeitoodestinatáriodo conteúdo editorial (sejaelemaispróximodoentretenimento oumaispróximodo jornalismo).Atéaí, atémesmo ondea ideiade separaçãoentre“Igreja”e“Estado” soa como um discurso fundamentalista, até mes- mo aí existe uma separação na rotina de trabalho. Ummínimo de separação de método existe. Também é certo que as redações não são iguais. Há níveis diferentes para as distâncias e as proximidades entre o que é editorial e o que é comercial. As publicações de empresas aéreas, ou as revistas customizadas, isso para ficarmos apenas comduas das espécies que hoje convivem dentro da ANER, não têm nem podem ter um método formalmente idêntico ao das semanais, que também são filiadas à ANER. Talvez, no futuro, os diferentes pactos que hoje se desenham entre os públicos, cada vez mais múl- tiplos, e os veículos informativos, cada vez mais diversos, requeiram éticas específicas. É provável, porém,quetodososveículosvenhamaserinstados a prestar contas sobre as regras que adotam para separar – ou juntar – informação e propaganda. É uma questão de jogo limpo com o leitor. Talvez isso venha a afetar, também, os contornos do conceito que temos hoje de jornalismo – e aqui chegamos ao plano dos princípios. Vivemos um momento, sobretudo no Brasil, emque o jornalis- mo independente precisa clarear seus contornos, separando-se de outras áreas da comunicação. Nesse processo, seria uma boa notícia se essa palavra, jornalismo , deixasse de designar de forma tão indiscriminada todo tipo de relato que se pretenda factual. Isso inclui a independência edi- torial. Assim, onde houver jornalismo independente, a “Igreja” estará sempre lá, com sua liturgia característica. Em algum lugar, lá estará o “Estado”, com as leis que o definem. Separados, mas em boa convivência. Como disse Nelson Blecher, da Editora Globo, na abertura da mesa da ANER, em setembro: “ A propaganda comercial é a fiadora da independência editorial ”. Ricardo Gandour, de O Estado de S. Paulo , aprofundou o mesmo ponto de vista, mostrando que o anunciante que tem visão de futuro não quer um elogio na matéria que vai ser publicada amanhã: acima disso, ele entende que o fundamental é apoiar e dar susten- tação, econômica e política, à imprensa independente, pois dessa relação de confiança ele, anunciante, é beneficiário direto quando se trata de comunicar a seriedade de seus produtos e serviços. Imprensa independente só é possível com redações independentes. Às vezes, independente até mesmo da empresa emqueestá instalada.Opúblicoacredita nisso. Valoriza isso.Queosdirigentesda mídia saibamrespeitar seus públicos – e suas redações. Como definir com segu- rança onde termina o jor- nalismoeondecomeçao “entretenimento”?Jornais diários publicam quadri- nhos e horóscopo, jogos, além do esporte, que é um híbrido: é jornalismo, emparte, mas tambémé entretenimento onde as fronteiras entre o jorna- lismo e a publicidade são bemmais sinuosas. ES PM

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx