Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010

R E V I S T A D A E S P M – setembro / outubro de 2010 66 como os olhos e, sempre que possível, como a consciência da Nação, pertença especialmente à imprensa de referência. Se é assim, qual é a razão do combate pela imortalidade da imprensa diária (dita “séria”)? Jornais: os embriões da democracia Insubstituível. É como, aparentemente, o papel da imprensa na construção da democracia e na garantia da liberdade de expressão é considerado.Menos informa- ção conduz a um maior desinteresse da populaçãosobreavidacotidianaea forma como é governada. A descida de partici- pação eleitoral, a diminuição do número de candidatos aos vários sufrágios e o au- mento de políticos reeleitos encontram-se entre as consequências do encerramento de jornais na comunidade em geral. O trabalho “Os Jornais interessam?” (2008), da Universidade de Princeton 1 , confirma- o. Já o estudo do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e da Universidade de Estocolmo conclui que em áreas cujos representantes não cativama atenção dos jornais – congressistas com cobertura midiática inferior – estes registrammenor disponibilidade para a comunidade e um investimento inferior do Estado. Pelopapel quea imprensa tevenaconstru- çãodademocracianorte-americana (como em outros países), e na garantia da liberdade de expressão, umvalor caro nos EUA (que, habitual- mente, marca tendências), a agonia de inúmeros jornais assume destaque especial. Afinal, quase todos os leitores de diários de qualidade têmuma opinião formadasobrea temáticamais importante enfrentada pelo país de cada um. Ao contrário de leitores de outros jornais diários: 26% dos quais declaram não saber 2 . Não pode haver democracia sem informar os ci- dadãos.Nemcidadãos informados semqualidade de notícias na mídia (BERTRAND 3 , 2009). O que deixa supor que a imprensa diária desempenha umpapel determinanteaoapoiarumademocracia efetiva, atualmente posta em causa pelo domínio do setor por grandes grupos privados. Há quem defenda que a solução passa pela transformação dos jornais em organizações sem fins lucrativos, libertas do pagamento de impostos. Será? Imprensa diária lucrativa: uma missão impossível? Como obter lucro numprazo de cinco anos? Atu- almente, não há nenhuma empresa e mídia no mundoquesaibaaocertoresponderaestaquestão: 2008 deixou isso bemclaro na imprensa. Doismil e nove não trouxe melhoras: instituições como o The Miami Herald ou o Boston Globe chegaram a perder US$ 1milhão por semana, agravando dia- riamenteasuacondição.O NewsCorp , opoderoso grupo multimídia de Rupert Murdoch (publica o TheWall Street Journal ), apresentou perdas anuais de 2.500 milhões de euros; a empresa editora de The Chicago Tribune e de Los Angeles Times , assim comoaHearstCorporation, donado SanFrancisco Chronicle , caíram na bancarrota e até o The New York Times solicitou ajuda aomilionáriomexicano Carlos Slim (RAMONET, 2009). Porquerazãoinúmerosanalistasconsideramaim- prensadiáriacondenada?Enquantounsprocuram desesperadamentepor fórmulasdesobrevivência, outros pronunciam a sentença em voz alta: a im- prensa diária é ummodo de informação obsoleto. É economicamente inviável, registra um mau funcionamento no setor e recorre, inutilmente, à construçãodegrandesgruposmultimídiainterna- cionais. Como se não bastasse, a articulação com Divulgação

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