Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010

R E V I S T A D A E S P M – setembro / outubro de 2010 72 } Pelo menos no Brasil, durante uns bons anos as revistas ainda terão lugar no mercado. É interessante que, neste ano, já foram lançados mais de vinte títulos de revistas no mercado nacional. ~ EUGÊNIO – Quero iniciar o debate, pedindo ao Thomaz que traga à mesa suas impressões sobre o futuro da profissão. O Thomaz é um dos mais finos observadores das ten- dências, ele é uma espécie de antena do mercado editorial no Brasil. Por isso eu gostaria que ele abrisse a discussão. Vão aí duas perguntas bem abertas. O papel vai morrer ou não? E o que isso vai acarretar? THOMAZ – Atualmente, minha maior preocupação não é o fu- turo do jornalismo, mas o futuro do leitor. Nunca vejo as pessoas preocupadas com o “leitor”, que é genérico demais. Existem diversos tipos de leitores, e a tecnologia vai acabar provocando comportamen- tos diferentes. Todo dia morrem leitores de papel e todo dia nascem leitores eletrônicos. A criança que nasce hoje, daqui a vinte anos, será um leitor mais de meios eletrônicos do que de mídia impressa. E essa discussão é fundamental. Desenho um círculo virtual que começa na primeira infância e acaba em oitenta anos para mostrar às pessoas que essa roda está girando: a cada ano, nascem leitores que não precisam mais de papel e morrem leitores que eram fixados no papel. Em dez anos o leitor não será o mesmo. Todas as outras discussões estão sendo travadas no plano das suposições, mas qual é o tipo de jornalista que vai servir a esse meu círculo virtual? Estava lendo uma newsletter sobre o jornalismo em revistas e a primeira preocupação se refere ao modelo de negócio. Suponha que o papel acabe e esse leitor que nasceu hoje daqui a 15 anos esteja lendo no iPad. Ninguém faz ideia de qual será o modelo de negócio. Do que tenho lido, o que há de mais radical são as declarações de Rupert Murdoch (presidente da News Corp.). Recen- temente, ele disse que o modelo de negócio da imprensa, dependente da propaganda, já acabou e ainda não nos demos conta. Isso não é verdade porque ele ainda tem um jornal fortíssimo, que ganha di- nheiro com uma boa propaganda. Estamos no começo da curva de uma nova revolução na comuni- cação. É difícil determinar qual o ângulo dessa curva, mas sabemos que essa transformação é rápida. De maneira geral, tem se falado pouco do desenvolvimento do leitor do futuro, não do jornalismo e dos meios do futuro. JAYME – O Thomaz pegou um ângulo relevante: qual será o leitor do futuro? Qual será o modelo econômico da indústria? E como isso possibilitará a continuidade do bom jornalismo? Em março, estive no congresso da Associação Alemã de Jornais assistindo ao seu 10 o Encontro de Jornalismo Online. Ninguém tem resposta para essas angústias e indagações a que o Thomaz se referiu. O diretor de marketing da Deutsche Telekom (maior companhia de telecomuni- cações da Alemanha), trouxe uma informação interessante sobre como vai ser esse leitor do futuro. Ele disse que, por volta de 2015, os digital natives [nativos digitais], jovens que já nasceram nesse mundo digital, estarão na mesma percentagem dos dig ital immi- grants [imigrantes digitais], que é o meu caso. Muitas ações estão sendo tomadas em relação à essa transição. Todas dentro do velho processo de tentativa e erro, já que ninguém tem a fórmula correta. O Murdoch está fazendo algumas experimentações. Ele passou a cobrar pelo acesso a alguns dos sites dos seus veículos, resultando em forte queda na audiência. E percebemos que continua sendo difícil prever o futuro. Há 19 anos, convidamos Nicholas Negroponte (um dos fundadores e professor do Media Lab, o laboratório multimí- dia do Massachusetts Institute of Technology – MIT) para um evento na RBS, em Porto Alegre. Durante uma reunião com a nossa diretoria, ele disse: “Saiam desse negócio do papel porque em dez anos ele não vai mais existir”. Ele é uma pessoa extremamente informada, mas a previsão dele não se confir- mou. Ela não aconteceu. O grande problema é antecipar quando essa transição vai acontecer. EUGÊNIO – Maria Célia, o papel está acabando ou as revistas em pa- pel ainda têm caminho pela frente?

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