Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010
setembro / outubro de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 73 } Na prática, o que interessa é que as pessoas leiam mais, não importa o tipo de mídia. ~ MARIA CÉLIA – Estamos lançando na ANER (Associação Nacional de Editores de Revistas) uma cam- panha inspirada numa iniciativa que a MPA (Magazine Publishers of America), desenvolveu para va- lorizar o papel impresso. Fizemos isso para mostrar que, pelo menos no Brasil, durante uns bons anos, as revistas em papel ainda terão lugar no mercado. É interessante que, neste ano, já foram lançados mais de vinte títulos de revistas no mercado nacional. A própria Editora Abril está lançando mais duas. Existe uma valorização do impresso. Sobre a Internet, gosto de uma frase de Umberto Eco. Se- gundo o escritor italiano, até algum tempo atrás, vivíamos na galáxia das imagens, com a valorização de imagens e vídeos. A Internet, o computador e os tablets estão nos conduzindo, novamente, para a era da palavra. Aí entram, efetivamen- te, o leitor e o jornalista, que é quem domina, escreve e traduz a palavra da melhor maneira. EUGÊNIO – Eu queria passar a palavra ao Celso, que é o novo pre- sidente da FENAJ, e já acrescento à nossa pauta algo que me parece um complicador do cenário de interro- gações por que estamos passando. No Brasil, confundimos assessor de imprensa com jornalista. Muitos acham que é a mesma profissão e isso dificulta até mesmo o ambiente de formação profissional e prejudica também o entendimento do que vem a ser a independência editorial. CELSO – Este debate que esta- mos tendo também acontece nos meios empresariais e jornalísticos e está angustiando a todos. Existe uma crise anterior à do jornalismo impresso, que é a crise do próprio jornalismo, ou seja, esse tipo de relato da realidade particular, sin- gular, que exercemos durante todo esse tempo. O jornalismo não é uma invenção do mercado. É uma necessidade social, ou seja, do leitor. Antes de as empresas aparecerem havia uma necessidade de pessoas que precisavam desse tipo de rela- to para que pudessem constituir e desenvolver, por exemplo, a demo- cracia que conhecemos. A pergunta que faço é: o jornalismo deixou de ser uma necessidade social? Essa é a questão. A atividade jornalística está em crise, mas não é a crise que atribuímos a ela. Se há alguns anos, quando surgiram essas tecnolo- gias, resistia-se a elas, nos tempos atuais essas tecnologias surgem e nós aderimos sem nenhum tipo de humanização, sem atribuir sentido humano a essa maquinaria. Isso faz com que fiquemos perplexos, como se não entendêssemos essa tecnologia que construímos. Por exemplo: sou jornalista de mídia impressa, mas sempre disse que é um tiro no pé, a cada cinco anos, a Folha de S.Paulo fazer uma reforma gráfica, colocar na capa do jornal e transformar isso em notícia no intuito de seduzir o público para esse novo jornal. Sempre falei que perderíamos essa corrida, porque não adiantava querer transformar o jornal impresso em televisão. Nunca vamos conseguir fazer isso, e
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