Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010

R E V I S T A D A E S P M – setembro / outubro de 2010 74 } Graças à Internet, o público que hoje é atingido pela informação aumentou muito no Brasil. ~ a televisão sempre ganhará. Assim, começamos a capitular por um tipo de crise externa, que incorporou questões do tipo: “as pessoas não têm tempo para ler” ou ainda “o leitor não consegue enxergar o corpo nove”. Meu pai lia o Correio do Povo em corpo oito e nunca teve problemas. Por que usar o corpo de letra catorze, quando perdemos em conteúdo? O problema não está nas novas tecnologias e sim no mau jornalismo. É o cachimbo torto na boca: gerido simplesmente por uma lógica emergencial da lucrativida- de, com as grandes empresas se movendo e a necessidade de uma maior lucratividade, valores não jornalísticos foram incorporados ao meio. Um deles é a ideia de unir entretenimento e jornalismo, o que remete à espetacularização. O jornalismo sempre trabalhou com essa sensação – o sensacionalismo, o drama. Mas quando isso começa a influenciar de maneira significativa o jornalismo, aí o blog da minha fi- lha passa a concorrer com os jornais. Se os jornais trazem conteúdos, que podem ser feitos por qualquer um e em qualquer circunstância, eles não precisam existir. Como diz Millôr Fernandes: “Eu não compro cadeira de quem faz cadeira pior do que eu faço”. THOMAZ – Minha preocupação em relação ao leitor do futuro é a se- guinte: para as amigas da sua filha, o blog dela é mais importante do que o jornalismo. O jovem está len- do cada vez menos [os impressos]. Portanto, os blogs de modo geral viraram algo importante. Devemos levar isso em conta quando pensa- mos no círculo virtual. EUGÊNIO – Se olharmos a história do jornal, vamos encontrar muito entretenimento. E essa origem, como a de muitos almanaques, é uma distinção difícil de fazer com metodologia segura. Os jornais sempre incluíram elementos de entretenimento. Roberto, a palavra está com você. Talvez não dê para dizer que o jornalismo tenha que ir nessa ou naquela direção. Mas o que vem se aproximando, o que se avizinha? Se a aposta do iG é jogar conteúdo original numa redação in- dependente, qualificada, uma apos- ta única no Brasil, fica a questão: onde está a sustentabilidade desse modelo e como ele se financia? BETO – Essa percepção do Thomaz sobre a curva é óbvia: mais leitores digitais, menos leitores de papéis. Como o Roberto Civita costuma dizer: “Meu negócio não é papel, é informação”. Embora tenha a questão da sustentabilidade, o nosso negócio é a informação. A neces- sidade do relato é cada vez maior. Às vezes, eles estão parados em notícias de órgãos com curadoria. E a palavra mais importante aqui é a curadoria. Um ano atrás, quando estava indo para o iG, não existia o iPad. Não pensávamos nessa possi- bilidade, que é importante para as revistas. Não pensávamos nela por- que, simplesmente, ela não existia. Mas a curadoria está ali, as grandes ferramentas do iPad são baseadas em órgãos como The Economist . E todos, jornais impressos e revistas, estão na Internet. Não é exatamente uma briga. Estão lá porque é um meio de divulgar a informação. O iG apostou exatamente nisso, na

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