Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010
setembro / outubro de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 77 } Um jornal que vale R$ 10 não pode ser vendido por R$ 2. ~ operamos hoje e este jornalismo – com as qualificações, os cânones que defendemos e os códigos que aprimoramos – precisa ser protegido e levado adiante, suportado pelo mercado. E quando falo emmercado, coloco em contraposição a um jor- nalismo tutelado pelo Estado ou por corporações, o que é uma ameaça. Como vamos preservar as redações altamente qualificadas que estão ameaçadas com esse tipo de tutela? EUGÊNIO – É comum, quando se fala sobre o jornalismo, que sejamos capturados pelo tema da tecnologia, como se estivéssemos debatendo maquinário e não uma função social ou comunicativa, que atravessou milhares de revoluções tecnológicas na sua história. Os advogados também desempenham uma profissão cada vez mais infor- matizada, mas para nenhum deles se coloca a questão de que a advoca- cia vai acabar. Os médicos fazem até diagnósticos de medicina nuclear e nem por isso estão preocupados com o fim da profissão. O negócio da medicina é curar, o da advocacia é defender a liberdade, o direito das pessoas. E a tecnologia não ameaça, sequer arranha a definição dessa identidade. Parece-me importante que retomemos o ponto de que jornalismo se pretende fazer, que jornalismo a democracia precisa. O jornalismo é um recorte dentro do amplo espectro das comunica- ções. De fato, podemos dizer que o jornalismo surge no calor, especial- mente do século XVIII, da ebulição da opinião pública, no encontro da sociedade com a ideia de que o poder emana do povo. Não havia jornalismo profissional, mas aí ele encontra a sua identidade e depois se converte num negócio. Olhando hoje, não encontramos nenhum exemplo de cânone jornalístico que não tenha vindo do mercado ou de uma experiência tipo a da BBC. Mas, se formos para a experiência da Espanha, a TVE acumulou uma dívida monumental, faraônica. JAYME – Não encontro soluções que tivessem dado certo buscando esse tipo de equilíbrio, mesmo in- cluindo a BBC. THOMAZ –Que é subsidiada. Vamos sair de televisão por um minuto e lembrar que não tem jornal nemmí- dia impressa que tenham alta credi- bilidade e que não sejamdemercado. EUGÊNIO – Concordo com o Tho- maz. Quero lembrar a importância dos cânones que adotamos como padrão de bom jornalismo, que foram desenvolvidos em prática de mercado. Agora, com uma con- cepção de função pública evidente. É importante olharmos para onde isso aponta e com que identidade jornalística trabalhamos. É aquele sistema financiado pela sociedade numa redação que tem condição de processar a informação com um olhar independente e crítico. Por isso, a única instituição da socie- dade capaz de fiscalizar o poder é a imprensa. Por isso a instituição da imprensa não deve ser confun- dida com relações públicas ou com assessoria de imprensa. CELSO – Quando falei do cachim- bo, estava imprimindo uma defesa do jornalismo. A nossa preocupa- ção, claro, tem de ser também com o modelo de negócio. Um modelo de serviço gerou um modelo de negócio e esse modelo de serviço,
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