Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010

R E V I S T A D A E S P M – setembro / outubro de 2010 78 } Vivemos essa t ransformação fan- tástica, de levar o jornalismo – como ele deve ser, com seriedade – para qualquer meio: web, tablet ou celular. ~ aparentemente, está em crise. Mas parece-me que essa crise tem uma dimensão exagerada em alguns momentos, colocada por essa certa sedução contemporânea da tec- nologia. O papel do jornalismo continua sendo o de sempre, nessa atividade que comporta empresas e mercados. Se dei a impressão de que estava defendendo um modelo estatal, longe disso. A FENAJ (Fe- deração Nacional dos Jornalistas), não compartilha dessa ideia. Agora, a apropriação privada sobre a in- formação tem a mesma dimensão de uma apropriação pelo Estado. A preocupação que temos é que o sistema de comunicação, seja ele qual for, tenha transparência. Esse sistema é constituído por empresas privadas estabelecendo negócios e empregados trabalhando nelas, e não deve privilegiar este ou aquele aspecto da formação da consciência, tem de ser a média disso; precisa es- tar submetido a pesos e contrapesos sociais. O jornalismo e, portanto, o jornalista, vai continuar praticando esta atividade incômoda na medida em que tem uma formação histórica voltada à fiscalização do Estado e também das relações sociais. O jornalismo tem de exercer essa ati- vidade crítica que tem embutida a ideia de entretenimento, de diversão e, principalmente, de comprovação, porque é isso que vai diferenciar os blogs pessoais dos jornalísticos, como o do Noblat , ou seja, o trabalho profissional. Agora, isso faz com que esse jornalista precise estar só nessa atividade, nesse formato do jornalismo que conhecemos? O Brasil consolidou várias práticas, como a forma de fazer essa atividade oriunda da formação profissional a partir do diploma. Isso fez com que os jornalistas nas assessorias de im- prensa imprimissem, na profissão, um formato diferente das assesso- rias de imprensa que conhecemos nos Estados Unidos e boa parte da Europa. Temos de olhar isso com carinho e certo cuidado. EUGÊNIO – Significa que as escolas de jornalismo vão formar assessores de imprensa e jornalistas e que a assessoria de imprensa pode ser feita por jornalistas. Existe entre nós um entendimento de que ser jornalista é a mesma coisa que ser assessor de imprensa, e isso é um engano, é um erro, isso pode confundir as novas gerações. Assim como no curso de Direito, as pessoas evoluem para juiz de direito, para a advocacia, para o ministério público e até para a diplomacia, também as pessoas que cursam jornalismo podem evo- luir para profissões diferentes. Mas é fundamental deixar claro que são funções diferentes. A profissão de jornalista se caracteriza pelo fato de ela atender ao direito à informação do cidadão e não à necessidade de uma empresa que o contrata para a difusão de uma determinada men- sagem. Ele está a serviço do cidadão que pergunta e não da autoridade ou da corporação para a qual responde. Essa clivagem diferencia, de forma radical, as profissões de jornalista e assessor de imprensa. THOMAZ – Você não se preocupa com o jornalista que se deixa ma- nipular por uma assessoria de im- prensa? Se sou um bom jornalista, tenho de saber que a notícia que estou recebendo de uma assessoria de imprensa está a serviço de uma coisa que não interessa aomeu leitor. BETO – E aí está a checagem da informação. THOMAZ – Se eu fico, vagabun- dantemente, trabalhando com press release , sou um mau jornalista e tenho de ser demitido. O bom jor- nalista desconfia, “aqui tem coisa”, e não publica sem antes investigar. Ele vai atrás porque talvez tenha uma boa história. Gostaria também de deixar uma observação sobre a questão do olhar para o futuro. Não vamos confundir a pergunta “o papel está acabando?” com “o papel vai acabar?” São coisas completa- mente diferentes. O papel não está acabando. O The New York Times está perdendo leitura a cada ano porque morrem os velhos leitores de papel e os jovens não leem o jornal. Nós, no Brasil, estamos vivendo numa ilha: as revistas estão indo bem, os jornais estão crescendo. O problema é nos deixarmos influen- ciar pela crise dos americanos.

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