Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010
R E V I S T A D A E S P M – setembro / outubro de 2010 80 } Só é independente a imprensa que tem uma via de sustentação vinda di retamente da sociedade. ~ a publicidade das coisas mais in- críveis. EUGÊNIO – E num momento em que o Governo vai virando um anunciante cada vez maior. JAYME – É muito discutível o tipo de anunciante em que se transfor- mou o Governo. EUGÊNIO – Somando federal, esta- dual e municipal, a verba pública é a maior dos anunciantes do Brasil. GRACIOSO – A verba paga, não o chamado horário gratuito. EUGÊNIO – O horário gratuito é pago também. Este ano estima-se que seja da ordem de R$ 800 mi- lhões (em impostos que deixarão de ser pagos sobre o lucro das emisso- ras, que podem abater da conta o que arrecadariam caso recebessem pagamento pelo horário eleitoral). JAYME – O horário gratuito é gra- tuito para os que o utilizam, não para a sociedade. BETO – A questão que foi levantada de que “ele paga a informação, então valoriza mais a informação”, não é exatamente isso. Ninguém aqui leu uma informação na Internet que achou razoável ou correta e ficou em dúvida porque não pagou por ela. A história da Internet trouxe a informação gratuita como default . EUGÊNIO – Só é independente a imprensa que tem uma via de sustentação vinda diretamente da sociedade, que recebe o pagamen- to do público, do leitor, do usuário daquela informação. Não que uma informação produzida de graça – as redes colaborativas estão aí e prestam um grande serviço – vá ser falsa. Mas se toda informação for produzida de graça, temos um risco posto para a existência da imprensa independente. BETO – O jornalismo bom traz mais gente, enquanto o jornalismo ruim afasta. Note que existe um poder muito grande nessa questão da In- ternet, a rede, que pode prejudicar ou beneficiar. Precisamos lembrar que jornalismo também é serviço, entretenimento, informação, não é só crítica da sociedade, é algo muito maior. Nas audiências de Internet ou mesmo das revistas é possível observar onde está o interesse da população. A pessoa precisa discutir a vacina do filho, o carro que vai comprar, uma série de coisas, mas você precisa fazer isso com a mesma seriedade. A questão do pago e do gratuito, por exemplo: por que nos tablets ou no celular você paga com mais facilidade? Porque, infeliz- mente, é uma questão tecnológica de como isso foi formatado. É tão rápido e fácil, que o usuário paga sem problema. Se colocar ali uma telinha com “leia essa notícia do iG” e precisar preencher cadastro e pagar, a pessoa vai embora. O The New York Times está aberto, o The Wall Street Journal também, mas se cobram pela informação, a pessoa simplesmente vai embora e não lê. Um modelo diferente foi criado pelo Steve Jobs, o tablet , no qual o consumidor paga pelo equipamento e também pelo conteúdo devido à facilidade de acesso. Vivemos essa transformação fantástica de levar o jornalismo – como ele deve ser, com seriedade – para qualquer meio: web, tablet ou celular, que é um grande canal de distribuição de notícia. Também tem a questão dos jovens que leemmais, porém de maneira diferente. Eles leemmais o que o amigo recomenda pela rede social. Eles não vão para o UOL ou o iG ver o que estamos manchetando , o que é interessante. É o amigo que manda uma notícia e eles leem. Isso é importante. O WikiLeaks (site de denúncias que publicou mais de 90 mil documentos secretos sobre a guerra do Afeganistão) não é feito por um jornalista. É preciso provar que é sério. Ele prestou um serviço que está sendo discutido. Há muitas coisas que a Internet traz de bom e outras de ruim. Espalhar boato pela Internet é muito fácil. THOMAZ – Tive acesso a uma pesquisa feita por jovens de 15 anos e a pergunta era: “Onde é que vocês vão?” A pesquisa descobriu que o jovem não vai ao The New York Times ou à revista Time . Eles vão ao Google e ao amigo que diz: “você viu?” EUGÊNIO – Todo começo de se- mestre faço essa pesquisa nas minhas aulas sobre quem lê jornal impresso e quem vai ao site do jor-
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