Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010
setembro / outubro de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 87 Efinalmente, claro, existe aquestãoda supervisão do governo nos programas universitários; mui- tos governantes toleram jornalistas, mas quase nenhum realmente gosta deles ou os respeita. Para uma universidade estadual, receber uma faculdade composta por pessoas que o governo considera como possíveis críticos problemáticos, ela precisa de mais força e comprometimento do que muitas universidades disponibilizam. Resta às empresas preencherem o vácuo. Exemplos dessa tendência podem ser encontra- dos na Europa, onde organizações como a BBC, GrupoPrisa, Axel SpringerGroup eRAI abriram suas próprias escolas de jornalismo; esse exemplo também foi seguido na Ásia, em empresas de Cingapura,Malásia, Indonésiae Índia; noOriente Médio, a Al-Jazeera criou uma escola. Até as escolas mais bem concebidas têm de, ine- vitavelmente, lidar ainda com outro desafio. Em sociedades onde quase todos abaixo dos 40 anos cresceramnummundo com acesso aos meios de comunicação e serviços móveis, a informação parece ubíqua; ela está em todos os lugares, em toda parte, gratuitamente, ou pelomenos é o que acreditam. Por que, eles perguntam, devemos esperar por um noticiário na televisão ou pelo jornal impresso? Por que a minha localização é importante quando eu quero ver, ouvir ou ler algo? Por que não posso ter apenas a informação que eu desejo, não a que o editor ou produtores querem que eu tenha? Essas perguntas são co- muns e razoáveis, se ignoramos o impacto que tais atitudes têm na capacidade das empresas de comunicação de possuírem uma infraestrutura de jornalismo que ainda é necessária para iden- tificar matérias, priorizar notícias do dia, juntar informações, checar detalhes, escrever e editar profissionalmente. Um mundo de informações ilimitadas e de fácil acesso é algo maravilhoso para se ter, e a maioria de nós faz parte dessemundo. Os blogs trazem diversas vozes novas para a atenção do público, algumas para melhor e outras para pior. As redes sociais unem as pessoas, mas também tendem a criar “bolhas” de interesses próprios, ecoando infinitamente as mesmas ideias e opiniões para as mesmas pessoas. É o triunfo da opinião versus os fatos. O desafio da educação jornalística hoje em dia é determinar se podemos fazer mais do que simplesmente treinar empregados do futuro. As melhores escolas podemter umpapel importante na explicação do valor do jornalismo profissional robusto, bravo, independente e lógico, economicamenteviável?Elaspoderãopro- duzir uma geração de jornalistas prontos para terem uma visão mais ampla, não só em relação aos tópicos que cubram, mas também a respeito do relacionamento em constante mudança com segmentos públicos? Será que as escolas de jornalis- mo e seus professores irão se engajar em debates depolíticas públicas considerando as regulamentações de telecomunicações, censura, transparência governamental, sigilo, licença e outras questões? Acima de tudo, o grande desafio é se as escolas de jornalismo conseguirãoganhar o respeitodopúblicopor produziremuma geração de repórteres e editores que sejam melhor preparados, mais reflexivos e mais adaptáveis do que seus antecessores. Se o público não compreender os benefícios tangíveis de informações de maior qua- lidade, se o produto final da educação de jornalismo for qualquer coisa que não uma democracia melhor, então os nossos esforços terão sido em vão. DAVID KLATELL Dean de Estudos Internacionais da Escola de Pós-graduação em Jornalismo da Universidade de Columbia. Em sociedades com ní- vel populacional estável, em declínio ou próximas da educação universal, onde a mídia vem satu- rando suas populações há décadas, o problema da oferta e demanda por informaçãoécurioso,pois nos aponta um cenário diferentedospaísesmais pobres, onde a penetra- ção da mídia ainda não atingiu seu ápice. ES PM
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