Revista da ESPM_JAN-FEV-2012

R e v i s t a d a E S P M – j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 1 2 100 cado, que rapidamente caminha para a saturação, onde começam a surgir problemas de propaganda enganosa. Entrevistamos o padre Christian, da Ordem dos Camilia- nos, e o professor Ismael acredita que está havendo uma espécie de sincretismo religioso no Brasil. As igrejas estão chegando cada vez mais perto umas das outras por conta dessa necessidade de encontrar argumentos. Quando elas não têm, vão pegar no con- corrente, mexem em alguma coisa e o transformam em seu próprio argumento. E isso é evidente que, em longo prazo, vai enfraquecer a imagem de todas as religiões. RABINO MICHEL – Uma relig ião sempre aprendeu com a outra. Isso não é novidade. A Mística Sufi in- fluenciando a Cabala e vice-versa, o Oriente se comunicando com o Ocidente... Isso faz parte da histó- ria das religiões. PASTOR ED RENÉ – Fiquei chocado com a frase: “O melhor produto é Deus e se o vendedor não for bom ele fica na prateleira”. Isso merece uma tarde inteira de discussão. De que Deus estamos falando? Outro ponto que deveríamos levar em consideração é que o cristianismo me antecede, o judaísmo antecede o Rabino Michel e está na essência da ação de marketing a compre­ ensão do público. O público me põe diante de um apelo. Então, as gerações X, Y, Z ou os Baby Boo- mers pegam esse Deus e veem que ele não é muito palatável ao seu tempo. A partir daí é preciso mexer nesse produto e até manipular a linguagem. Uma coisa é adequar a linguagem ao público, outra coisa é manipular o produto. Qual o grande perigo e por que as pessoas consideram a expressão marketing religioso como algo profano? Isso acontece porque dá uma ideia de manipulação do sagrado para torná-lo mais atraente e palatável, mais consumível. PASTOR RINA – Marketing reli- g ioso não é a manipulação do sagrado. Valores, princípios e fé são inegociáveis. MÁRIO – Estamos na Escola Supe- rior de Propaganda e Marketing e o objetivo é saber como essas religiões se vendem. Vamos pegar marcas clássicas – Leite Moça, Maisena, Minâncora, Phebo. Al- gumas delas têm 100 anos ou mais e permanecem com o mesmo pro- duto. Só mudaram a embalagem e continuam vendendo. Partindo desse princípio, que religiões se mantêm absolutamente f iéi s? Quais mudaram a embalagem? Quais mudaram o produto? E em que medida isso gera uma discus- são? Talvez isso esteja mais pró- ximo do Marketing das Religiões, porque não podemos discutir a essência do judaísmo, do budismo, do cristianismo e do espiritismo. PASTOR ED RENÉ – As pessoas buscam soluções imediatas, rá- pidas e mágicas. Aquele sujeito que manipula o Sagrado dizendo “esse Sagrado resolve seu pro- blema, qualquer que seja ele” é chamado de bom vendedor. Qual o Deus que mais vende hoje? O Deus que faz mágica. REVERENDO ALDO – O que fazer com quem você atraiu? Isso é importan- te por uma questão: quando você tem tudo que há de material, tem o horizonte ôntico, mas ainda tem a sede do antológico. Isso é humano e foi comprovado cientificamente pela Universidade de Harvard. Ou- tro ponto que responde é o fato de a religião entrar na vida das pessoas. De 45 presidentes americanos, só um foi romano – Kennedy. Uma pesquisa descobriu o porquê disso: os americanos não querem interfe- rência na vida pessoal e particular. Os Estados Unidos representam o maior país religioso do mundo e também o mais fragmentado do mundo cristão. RABINO MICHEL – O judaísmo se transformou muito ao longo dos anos. Hoje, o ritual é completa- mente diferente da época em que existiam os Templos de Jerusalém. Em nenhuma sinagoga se sacrifica } Deus não é um produto bom sempre e as pessoas começam a perceber que aque l e não é um Deus verdade i ro, é um í do l o. ~

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