Revista da ESPM_JAN-FEV-2012
R e v i s t a d a E S P M – j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 1 2 102 } Nossa t ransmi ssão é mat r i l i nea r, de mãe para f i l ho ou, eventua lmente, quem se con ver te ao j uda í smo por i n ici at i va própr i a , que é testada ma i s de uma vez . ~ a mesma busca que é igual às outras. Rabino, por favor, é sim ou não? ISMAEL – E aí eles incorporam este sim ou este não como verdade. RABINO MICHEL – A palav ra de Deus. ISMAEL – Aí se torna fundamen- talista. JORGE – A modernidade tem o valor da individualidade da busca. Hoje, temos mais liberdade na subjetivi- dade. O fundamentalismo é uma postura contemporânea e atual, mas não é moderna nesse sentido. A pessoa quer uma resposta pronta porque não tem conhecimento e discernimento para buscar algo dentro de uma realidade complexa. Ao buscar uma resposta pronta, você esvazia, empobrece e nega metade da realidade. As religiões, acos- tumadas a dar sempre as mesmas respostas, vão perder para aquele pastor que está a serviço – religioso – do ser humano. Se você já vem com respostas prontas, cai em uma espécie de nazismo, stalinismo ou ditadura com extremismo. MÁRIO – Há quanto tempo existe o marketing da CIP (Congregação Israelita Paulista)? RABINO MICHEL – Desde que ela foi fundada. Esse marketing visa estabelecer uma conexão melhor com o sócio da CIP. MÁRIO – Há quanto tempo as igrejas se profissionalizaram? RABINO MICHEL – No judaísmo, a questão da introdução da estética como uma preocupação surge na passagem dos séculos XVIII para XIX. Os judeus viviam isolados na Europa e quando alguém pergun- tava se a reza tinha sido legal ou bonita, eles não entendiam a per- gunta. Quando cai o muro e o judeu começa a se integrar na sociedade europeia, a sinagoga passa a com- petir com a casa de ópera, o restau- rante e a universidade. O mundo se abre e, em Hamburgo, começa a surgir, em 1918, o primeiro templo judaico moderno, com preocupação arquitetônica, órgão, coro, indu- mentária do rabino, ou seja, começa a existir uma preocupação estética que antes não existia. Agora, a reza precisa ser bonita, atraente, curta e interessante. REVERENDO ALDO – Teatralizada. JORGE – Qual a etimologia da pa- lavra beleza em judaico? Bet el za . É a casa onde Deus grita e se exibe. ISMAEL – No final dos anos 70, houve um movimento nos Esta- dos Unidos, muito interessante, de ida dos pastores evangélicos para a televisão. JORGE – Isso já é década de 50. ISMAEL – Sim, mas isso se fez de uma maneira mais estratég ica, porque foi o momento em que os conceitos de marketing começa- ram a permear tudo. Foram feitos projetos interessantes, grandes concentrações, estádios cheios e isso acabou tendo um impacto grande. Naquele momento histó- rico, eu fazia ESPM e tivemos um primeiro artigo no Brasil que falava de marketing das religiões. Publi- cado na revista Marketing , o con- teúdo fazia referência ao que vinha acontecendo nos Estados Unidos. A partir daí, se espalhou pelo mun- do. No Brasil, desde o começo dos anos 80, isso é parte de uma forma estruturada, pensada e discutida, também academicamente. Depois, houve uma proliferação de livros de marketing religioso com lições de sucesso. Certamente, muitas pessoas acreditaram e foram por esse caminho, que hoje já não faz mais sentido. Hoje, não se encontra mais esse tipo de literatura, que está totalmente desacreditada. Vivemos outro momento, de fazer com que o discurso tenha consis- tência e esteja de acordo com a demanda. Não é um discurso falso ou baseado nas cinco regras para você encher a sua igreja, como foi vendido naquela época. RABINO MICHEL – Primeiro liber- tar o povo do Egito e depois fazer o discurso.
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