Revista da ESPM_JAN-FEV-2012

j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 105 tratégia simples e uma capacidade de leitura da nossa cultura quase que singular. O que eles fizeram foi intuir que, num país de fragilidade de educação, pobreza, miséria, des- caso com a saúde e a habitação, o cidadão está às moscas e não tem a quem correr. Então, ele corre para Deus. Que Deus é esse que estão vendendo? É o Deus mágico, que resolve. Para vender esse conceito, primeiro, eles massificaram a oferta na mídia radiofônica e televisiva, colocando os pontos de venda nas localizações mais estratégicas de todas as cidades. REVERENDO ALDO – Em todas as cidades brasileiras, o templo da Universal do Reino de Deus está na avenida. Aquele privilégio em termos geográficos do catolicismo romano, que tinha um templo na praça e a cidade se construía em volta, passou a ser a estratégia da Universal. Também fizeram um templo que fica aberto o dia inteiro, com cinco horários de culto e um pastor disponível 24 horas. Então, a pessoa que ouviu o rádio ou assistiu à televisão sabe que terá um pastor no templo para atendê-la. O Deus que estou lhe oferecendo resolve o seu problema. Essa notícia chega rápido, porque está sendo anun- ciada a toda hora. PASTOR RINA – E, se quiser, atendo você agora, não precisa esperar até domingo à noite para falar comigo depois do culto. PASTOR ED RENÉ – É um case ex­ traordinário. Eles leram a cultura brasi lei ra, que é si ncrét ica. A Universal do Reino de Deus é uma mistura simbólica de protestantis- mo histórico, catolicismo romano e religiões afro. Eles distribuem ramos no Domingo de Ramos, têm a oração das seis horas da tarde e chamam o pastor de Bispo, em alusão à simbologia católica. JORGE – Tem a teologia do “en- costo”. PASTOR ED RENÉ – A identidade pretendida é evangélica-protes- tante e a fenomenologia litúrgica é afro, já que expulsa o demônio ao vivo e em cores. Esse é um case que está sendo estudado em todas as academias. JORGE – Outro case de marketing religioso é o da Congregação Cristã no Brasil, que chegou aqui em 1910, e a Assembleia de Deus, que acaba de comemorar seu centenário. A Assembleia de Deus tem hoje mais adeptos do que a Universal, com todo o seu poderio. PASTOR RINA – A estratégia é dife- rente. Eles abrem igrejas menores em casas, em portinhas sem custo. MÁRIO – Então, existem grandes desafios de marketing e comu- nicação para as igrejas poderem copiar o fantást ico modelo da Igreja Universal? GRACIOSO – Eles se comunicariam melhor e seriam mais persuasivos se cuidassem mais dos valores. O Rabino Michel disse como é no judaísmo, que zela por seus valores imutáveis, mas aceita mudanças no ritual e nas circunstâncias. As nossas igrejas não são tão claras, } Não podemos entender o ma r ket i ng como a l go pe j o rat i vo ou uma técn i ­ ca do ma l . ~