Revista da ESPM_JAN-FEV-2012
R e v i s t a d a E S P M – s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 12 GRACIOSO – Kater, para nós, sua presença é um duplo prazer, pois você é nosso ex-aluno. KATER – Falo da ESPM com carinho e indico a Escola para quem me pergunta. GRACIOSO – De cer ta forma, a ESPM ajudou a acordar sua percepção para a importância do marketing também na religião. Isso foi em 1985. De lá para cá, as coisas mudaram. Estamos diante de uma verdadeira revolução religiosa no Brasil, que vem das bases para cima e que são, justamente, as que perduram. Essa guerra religiosa ocorre, princi- palmente, na periferia das grandes cidades, onde estão concentrados os migrantes que vieram do Nordeste. De forma geral, essas pessoas abando- naram ou perderam os laços culturais históricos e estão enfrentando a dureza da vida urbana, sendo muitas vezes inferiorizadas pela discriminação. Para esse público carente, principalmente de esperança e oportunidade, é fácil transmitir a mensagem das igrejas neopentecostais: “você pode e deve ser feliz aqui e agora”. Conheço seu traba- lho, sei das suas opiniões a respeito da “culpa” da igreja católica, que não soube reagir com mais agressividade a essas novas ameaças. Mas qual a sua opinião a respeito dessa revolução? KATER – Essa situação tem uma relação direta com o comodismo da igreja católica, que por dois mil anos dominou o mercado, sem se preocupar com a concorrência. Um levanta- mento da FGV mostra que em 1972 tínhamos 99,72%de católicos no Brasil. Oito anos depois, esse número foi reduzido para 88%. Em 1991, uma nova queda: 83%. Até que em 2000 che- gamos a 73% de católicos no País. Ao analisar esses números, qualquer empresário já teria tomado uma decisão na tentativa de reverter esse quadro. Mas a igreja foi inchando e se dis- tanciando dos fiéis, que passaram a encarar o batismo, a primeira comunhão e a crisma como um ato meramente social. Por outro lado, até a primeira metade do século passado, a profissão de padre era algo que tinha status e dava uma garantia de bem-estar e conforto ad eternum até a salvação. Na época em que era comum uma família ter dez filhos, “dar um filho para Deus” era quase que um gesto benemérito, como se você ganhasse uma vaga no céu. ANNA GABRIELA – Quando essa imagem começou a mudar? KATER – Com a Revolução Industrial, as pes- soas passaram a ter mais oportunidades e motivos para sair de casa. Com a expansão dos meios de comunicação, muitos perceberamque a igreja não era o único lugar onde poderiam investir seu tempo e a estratégia de prender a atenção dos fiéis por uma hora e meia dentro da igreja deixou de ser eficiente. Os padres sempre foram “marqueteiros”. A própria Via Sacra é uma estratégia de marketing, uma espécie de comunicação audiovisual composta por quadros que contam a vida de Jesus – uma catequese fantástica no tempo em que a maio- ria das pessoas eram analfabetas e não tinham acesso à Bíblia. Outra estratégia que funcionou durante séculos foi realizar longas missas e fa- zer a meditação do Rosário para manter os fiéis dentro da igreja por horas. Quando o mundo começou a apresentar novas opções de entre- tenimento e lazer, a igreja começou a perder a frequência daqueles católicos que iam à missa } Sou amigo de grandes pastores, que af i rmam que a f requênci a nos cul tos evangélicos também está caindo. ~ E N T R E V I S T A
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