Revista da ESPM_JAN-FEV-2012
s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 – R e v i s t a d a E S P M 13 S o f i a E s t e v e s ‘ por tradição familiar. Como o padre não teve o cuidado de adequar sua comunicação a esse novo momento, o mundo passou a ter um bri- lho e um glamour maior para a sociedade. Em minhas palestras sempre digo para os padres: “Vocês dizem verdades que já cansei de ouvir, mas que não tocamomeu coração. Os pastores evangélicos dizem as mesmas verdades num linguajar que mexe com a minha emoção. Se eu não fosse católico apaixonado já teria me tornado um pastor evangélico.” A evolução da sociedade foi a primeira e maior causa dessa debandada. Quando o católico deixa de ir ao templo, começa a perder o vínculo com a igreja. A missa de domingo passa a ser uma obriga- toriedade e perde audiência até para o jogo de futebol que é transmitido na TV aos domingos. Tem até uma brincadeira feita com aquele ade- sivo “Deus é Fiel!” Muitos corintianos dizem que, em dia de jogo, não precisam ir à missa, porque Deus está assistindo lá de cima. GRACIOSO – Nesse contexto, a divisão re- ligiosa que está havendo no Brasil tem relação com as classes sociais? KATER – Sim, mas a influência maior de quem permanece na igreja católica é a tradição e a famí- lia. Faço retiropara casais há quase 30 anos. Todo mês, eu eminha esposa estamos emalgum lugar do país pregando para casais. Tenho mais expe- riência do que um padre em ouvir os problemas dos católicos. Então, posso afirmar que a família é a primeira grande causa dessa divisão. Mas os próprios evangélicos estão com “problema de audiência”. Sou amigo de grandes pastores, que afirmamque a frequência aos cultos evangélicos tambémestá caindo. Coma ascensãoda classeC, mais pessoas passarama ter acesso a TVa cabo e, no horário do culto, temà sua disposiçãomais de 80 canais comesporte, entretenimento enotícias. Outro concorrente de peso é o shopping-center, que substituiu o papel da paróquia na sociedade. Antigamente, as meninas ficavam andando pela praçada igreja enós ficávamos olhandopara elas. Os jovens de hoje fazem isso no shopping, que é o templo do consumo. ANNA GABRIELA – Segundo sua tese, hoje todas as religiões estão perdendo fiéis para as novas formas de entretenimento? KATER – Sim. Em 2000, enquanto o catolicis- mo detinha 73% da preferência nacional, o protestantismo representava 15,4% dos fiéis. Na outra ponta, os sem religião somavam 7,4% da população e esse é o dado que mais me incomoda como teólogo e profissional de marketing, porque vem crescendo gradati- vamente o número de pessoas que declaram não ter religião. Analisando os dados mais recentes do Censo, os católicos somam 68% e os evangélicos, 12,76%. Em dez anos, eles passaram de 15% para 12% e se dividiram em uma série de seitas evangélicas, enquanto os católicos sofreram uma redução de 5%. Não é uma queda tão significativa. GRACIOSO – É próprio de toda marca dominante, que não pode manter-se monopolista, é impossível. KATER – Lógico. Sou publicitário e quando tinha agência fazia algumas veiculações de anúncio na Globo, que trabalhava com um índice de 40% de audiência média em sua programação. No passado, o Jornal Nacional atingia 60% de audiência no Ibope. Hoje, quando algum programa chega a 20%, eles comemoram. O crescimento das ofertas de la- zer é a causa maior dessa evasão. Omarketing ajuda a amenizar essa situação. Nos últimos anos, as igrejas têm investindo cada vez mais em comunicação, estratégias para levantar fundos e atrativos como ar-condicionado, ca- deira estofada, cafezinho na secretaria e uma secretária qualificada que certamente deve ter participado do meu curso de marketing. Mas ainda há um despreparo e o mal está no seminário. Tenho discutido comos Bispos para incluir a matériaMarketing na grade curricular do seminário. É preciso preparar o padre para falar em público. ANNA GABRIELA – Levando em conside- ração os 4 P´s de Philip Kotler, como as Antonio Kater j a n e i r o / f e v e r e i 2 i
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