Revista da ESPM_JAN-FEV-2012

O ão é a primeira vez, nestes 20 séculos, que a Igreja Católica parece perder rele- vância, fiéis e atualidade na mensagem. Isso aconteceu na queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.) e do Oriente (1453 d.C.), na invasão da Europa pelos mouros (711 d.C.), na invasão dos povos bárbaros, na crise da Renas- cença, com o aparecimento dos diversos ramos do protestantismo (Lutero, Calvino, Zwinglio), no Iluminismo, nas Revoluções Francesa, Mexicana ou Espanhola, na perda dos Estados Pontifícios e mesmo durante a 2 a Guerra. Voltaire tinha certeza de que acabaria com a religião católica e Nietzsche proclamava que Deus morrera. Tem, porém, sempre ressurgido, com força maior e santos renovadores, como São Francisco de Assis, São Bernardo, Santo Inácio de Loyola, São JoséMaria Escrivá, mostrando a permanência de uma mensa- gemque não necessita demarketing, pois penetra no íntimo dos homens de boa vontade, dispostos a viver valores familiares, profissionais e sociais. Mesmo a grande crítica que se fez à Idade Média não se sustenta, se tivermos presente que graças à Igreja Católica, criou-se o maior instrumento de cultura da civilização ocidental, que é a Uni- versidade. Quase todas as ciências evoluíram a partir de cientistas sacerdotes, desde a astronomia à física, matemática ou genética. O próprio processo de Inquisição – a história demonstra que o número de condenados, em séculos de Inquisição, foi muito menor do que os mortos em qualquer batalha sem expressão daquela época − permitiu a evolução do direito processual moderno, com a eliminação das or- dálias, substituídas pelo contraditório. O certo é Ponto de vista ES PM que a Igreja Católica tem conhecido um renascer fantástico, como as últimas jornadas da juventude em Madrid demonstraram. Por outro lado, as figuras dos dois últimos Papas (João Paulo II e Bento XVI), quando se pensava que a Igreja Católica estaria desaparecendo, leva- ram e levam multidões, que acolhem com entu- siasmo a figura de Sua Santidade por onde passa. É bem verdade que vivemos período de múltiplos choques, que procurei retratar no meu livro A era das contradições . Hoje, o egoísmo e a autor­ realização, alimentados por uma expansão da desfiguração familiar, do avanço das drogas, da corrupção e da falta de fidelidade, tanto na família quanto nos negócios, fizeram com que muitos se afastassem da religião católica, que não transige no que há de permanente em seus valores. O homem tem, todavia, uma necessidade fantás- tica de Deus e, quando não busca o verdadeiro, elege outros deuses, como ocorreu com o nacional socialismo ou os deuses do cotidiano (dinheiro, sexo, poder, drogas etc.). Tal choque entre o mundo das virtudes e o mundo do egocentrismo é algo que permanecerá até o fim dos séculos. Mas, como as estações se renovam, renova-se, de igual forma, a mensagem de Cristo, que se torna sempre nova, apesar de seus 2.000 anos. Essa é a razão pela qual, nada obstante as críticas e ataques que recebe de todos os lados, a nave da Igreja singra buscando os homens, não como uma empresa busca clientes, mas, desinteressadamente, para que encontrem um sentido de vida que lhes dê a verdadeira dimensão da existência. Ives Gandra da Silva Martins - Advogado tributarista, professor e jurista. IVES GANDRA DA SILVA MARTINS A Igreja Católica e o mundo atual N

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