Revista da ESPM_JAN-FEV-2012

R e v i s t a d a E S P M – s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 14 religiões estão trabalhando o marke­ ting atualmente? KATER – Trabalhei os 4 Ps na minha tese de mestrado sobre marketing religioso na USP e desde então não parei mais de promover o tema no Brasil. O produto é a salvação que a igreja oferece. Ninguém entra em uma igreja, mesmo que de maneira inconsciente, se não estiver buscando a eternidade. Você pode não pensar nisso hoje porque é jovem, mas na hora que chegar a uma certa idade... ANNA GABRIELA – Mas isso somente na igreja católica? KATER – Não. De uma forma ou de outra, a sal- vação é oferecida por quase todas as religiões. GRACIOSO – Como combustí vel para a discussão diria que, por dever de ofício, ouço frequentemente os progra- mas neopentecostais e eles não falam em salvação. KATER – Não abertamente, porque a salvação é um produto que não interessa a todos. GRACIOSO – Eles enfatizam o aqui e o agora. KATER – Eles foram mais espertos ao traba- lharem com a Teologia da Prosperidade, a promessa do dízimo e o Reino de Deus aqui na Terra. A igreja católica vende a história de que o céu só se alcança pelo caminho do sofrimento. Vou falar sobre isso no meu próximo livro, que será uma bomba. Vai chamar-se “A dor e o sofrimento não é uma imposição, mas é uma probabilidade na vida do cristão”. Ao longo da história, os mártires foram os grandes santos, que serviram de modelo para nós. O que se apresentou na igreja católica é que o caminho da salvação passa pela cruz. Não concordo com a obrigatoriedade da cruz, que transmite a ideia de que se sou rico, tenho uma casa ou um carro, não vou para o céu. Isso porque a salvação passa pela dor e pela pobreza que durante séculos foi o discurso da igreja. Os evangélicos inverteram esse conceito pregando que a prosperidade é presente de Deus, assim como diz o judeu. A diferença é que o judeu olhava a pobreza como castigo e dizia que o cego, o surdo e o aleijado não iriam para o céu porque alguém no passado de sua família cometeu um pecado que ele está pagando. Aí veio Jesus e curou cego, surdo e mudo, não para fazer espetáculo, mas para mostrar que mesmo as pessoas com defeitos físicos são amadas por Deus. O aqui e agora representa uma interpretação, às vezes exacerbada, do próprio Evangelho, uma vez que Jesus não disse que teríamos que sofrer. Ele prometeu alegria e felicidade. Ele curou e disse que “no mundo tereis tribulações”, mas isso é proba- bilidade. As atribulações, o sofrimento e a dor são consequências de o homem não agir de acordo com a vontade de Deus. Você não sofre porque Deus quer e sim porque o mal age so- bre você. O evangélico soube trabalhar isso, o padre católico não. Santa Terezinha pregou três coisas – amar, amar e amar – e tornou-se uma das santas mais populares da história da igreja. Morreu aos 24 anos com tuberculose e isso não foi castigo de Deus, mas uma consequência. Ser feliz e prosperar não é pecado, desde que você seja fiel a Deus. Como? Devolvendo aquilo que é de Deus por meio do dízimo para que a igreja possa fazer sua obra, implantar o Reino de Deus e ajudar os mais pobres. GRACIOSO – Com base no próprio Evan- gelho, os evangélicos encontraram uma vantagem competitiva em relação ao discurso da igreja. Você já pensou sobre isso e encontrou soluções, tanto que um pupilo seu, o padre Robson, de Goiás, está se transformando num verdadeiro sucesso pop. KATER – Hoje ele é o maior case de marketing católico da minha história. Primeiro é preciso lembrar que o fenômeno do “Pai Eterno” é uma procissão que reúne dois milhões de católicos no Centro de Goiás e já existe há 270 anos. Em 2004, um carismático me disse que um padre E N T R E V I S T A j a n i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 1 2

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