Revista da ESPM_JAN-FEV-2012

R e v i s t a d a E S P M – j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 1 2 26 me deparo com um nome que mais parece um mandato. Direto, enuncia, ao mesmo tempo em que promete e ordena, em espanhol: “ Pare de sufrir ”. A descoberta desse nome próprio, do qual não me lembrava, aguça ainda mais o enigma. Reconheço que tenho os meus sofrimentos, porém nenhuma esperança de erradicá-los definitivamente. Decido então, um pouco por curiosidade antropológica e outro por pura intuição, pesquisar do que se trata. Ao recorrer à internet, a primeira surpresa. Descubro que faz parte do investimento transnacional da Igreja Universal do Reino de Deus , neopentecostal brasileira fundada por Edir Macedo em 1977. Chama-me a atenção perceber que estou diante de uma igreja brasileira que, nos Esta- dos Unidos, fala espanhol. O que poderia ter sido uma igreja étnica, voltada para uma co- munidade nacional específica, revela-se neste caso um território que não visa fornecer aos seus fiéis o aconchego dos valores culturais e dos vínculos relacionados à comunidade de origem, como se poderia esperar desse tipo de instituição. Tal característica situa a Igreja Universal/Pare de Sofrer entre as congregações etnicamente misturadas , onde a identidade se constrói em torno de um sentimento de latinidade, ali- mentado pelo sofrimento que todos os fiéis têm em comum e que é impingido pelas mãos de autoridades de imigração, empregadores e proprietários. (LEONARD, 2005) Sob o sol do Texas Por diversos fatores que vão do desarraigo às mais variadas formas de exploração, a imigra- ção aos Estados Unidos através da fronteira mexicana tem sido, desde as origens, motivo de sofrimento para os sujeitos que ao longo da história tomaram a decisão de emigrar. Esse tipo de imigração pode ser dividido em dois grandes períodos (EBAUGH e CHA- FETZ, 2000). O primeiro, nas décadas de 1910 e 1920, protagonizado por mexicanos que fu- giam da revolução e procuravam emprego nos Estados Unidos; e o segundo, desde 1970 até o presente, em que a fronteira mexicana passou a ser também local de entrada de numerosos centro e latino-americanos. A primeira fase migratória foi ilustrada pela literatura, num clássico denominado O sol do Texas (ESPINOZA, 2007). Publicado pela pri- meira vez em 1926, o livro descreve com realis- mo as injustiças enfrentadas por duas famílias de imigrantes, destacando suas esperanças e sofrimentos. As expectativas iniciais de retor- nar à terra natal com dinheiro para comprar um pedaço de terra vão sendo minadas, pouco a pouco, por uma realidade de exploração. Ao final uma das famílias decide voltar e a outra persiste, ainda que com muita dificuldade. A segunda etapa migratória, de especial inte- resse para este artigo, tem sido retratada em diversos documentários, dentre os quais vale mencionar Os invisíveis , produzido por Gael García Bernal e pela Anistia Internacional. O filme focaliza a dura jornada empreendida por imigrantes sem visto nos seus percursos através do México, na tentativa de alcançar e atravessar a fronteira desse país com os Esta- dos Unidos. Os horrores a que essas pessoas se submetem durante o trajeto são muito mais Omovimentoneopentecostal ouneocarismáti- coéomaisrecentemovimentodocristianismo etambémomaisnumeroso.Possuiumaforma muito sobrenaturalista de encarar sua vida religiosa, com ênfase em curas milagrosas e uma intensa batalha espiritual, sendo, em geral,mais flexível emodernoemquestões de costumes do que os pentecostais tradicionais.

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