Revista da ESPM_JAN-FEV-2012

R e v i s t a d a E S P M – s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 40 GRACIOSO – No Brasil está havendo uma verdadeira revolução da fé. Nunca houve tanto interesse pela religião, com pessoas que se diziam afiliadas a determinada crença passando para outras. Em sua opinião, o que explica esse movimento? HERÓDOTO – Do lado sociológico, as mudanças mais recentes em todos os setores, incluindo a área religiosa, devem-se ao crescimento registrado no Brasil nos últimos anos, e tam- bém pelas relações econômicas do País terem se tornado capitalistas. Até a década de 60, algumas relações de produção nacional eram pré-capitalistas. No campo, por exemplo, havia ainda o “meeiro” e o “retireiro”, que não ganhavam salários. Era uma relação de trabalho em que ficava-se com uma parte da produção. Hoje, não se imagina alguém tra- balhando sem carteira assinada, contrato de trabalho ou contrato de prestação de serviços. Outro ponto é que amadurecemos intelectual­ mente. É óbvio que não estamos ainda na meta que gostaríamos, mas temos muito mais educação, cultura e conhecimento de outras tradições religiosas no País. No passado, só aprendíamos o catolicismo cristão. Mesmo porque as igrejas não cristãs nem tinham aspecto externo de templo. Isso vem da época do Primeiro Reinado, porque a Constituição de 1824 dizia que havia liberdade religiosa no País, mas não podia haver templos. Quando os reformistas chegaram aqui, na época do Padre Feijó − que era católico, mas autorizou missões não católicas no Brasil –, estabeleceram-se as primeiras comunidades evangélicas, mas até hoje essas igrejas não têm aspecto externo de templo. Com o desenvolvimento dos meios de comunicação, outras confissões religiosas chegaram à mídia e uma quantidade maior de pessoas tomou conhecimento do conteúdo dessas novas religiões, passando a optar não só por aquela tradicional, que existe desde a época da colonização do Brasil, trazida pelos Jesuítas no começo do século XVI. Outras religiões foram chegando por missões e por fenômenos de colonização, como o Islã – tra- zido pelos imigrantes árabes – e o budismo, que veio com os imigrantes japoneses. Todos esses fenômenos explicam a maior diversidade religiosa no presente. MÁRIO – As evangélicas neopentecostais são curiosas porque, aomesmo tempo que alugam salas de cinema sem aparência de templo, algumas são muito suntuosas. HERÓDOTO – As igrejas budistas também não tinham aspecto externo de templo. Lembro de quando entrei na primeira igreja budista da Seita Sotô, Zen, – uma seita de origem japonesa que ficava num casarão na Rua da Liberdade. Jamais poderia imaginar que aquela casa comum era uma igreja budista. Hoje, foi reconstruída e parece um templo. GRACIOSO – Na verdade, a explosão da fé não aconteceu com as igrejas tradicio- nais, incluindo o budismo, o islamismo e até algumas confissões evangélicas e protestantes. Quem deu a virada foram os neopentecostais, que encontraramum ca- minho mais direto e profícuo na conversa com os prosélitos. Você concorda? HERÓDOTO – O neopentecostalismo é uma emanação das transformações sociais nos últi- mos 30 anos. Essa nova religião veio ao encon- tro do desejo que as pessoas têm de prosperar, crescer, mudar suas vidas e, principalmente, } Os neopentecosta i s tomaram da igrej a a bandeira do milagre, que era uma exclusividade católica e popular izaram essa at ividade. ~ E N T R E V I S T A

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