Revista da ESPM_JAN-FEV-2012
R e v i s t a d a E S P M – s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 42 HERÓDOTO – Mas isso não é uma inovação. Os rabinos fazem isso desde a antiguidade. Moro num bairro judaico, acompanho meus amigos judeus e percebo que os rabinos também são intermediários entre Deus e o homem, assim como os pastores e os padres. Já os monges budistas não assumem esse papel. No bu- dismo não existe milagre. Se olharmos por esse aspecto, o pastor ainda exerce o papel de ir de casa em casa congregar as famílias, principalmente na periferia. Ele é um pouco psicólogo, um pouco sociólogo, um pouco as- sistente social. Vejo esse pastor falando muito mais a realidade para os seus seguidores na periferia do que o padre na igreja. Existe um descolamento no discurso do padre em relação aos fiéis, o que faz com que ele os perca. De fato, essas pequenas igrejas crescem commais velocidade na periferia, onde observo que os padres católicos estão mal preparados. Na minha infância conheci padres com educação extraordinária. Não sou cristão, mas vou à missa e fico ouvindo o que está sendo dito. É um conteúdo que nada diz. MÁRIO – Esses padres que fazem sucesso têmuma linguagemcommais credibilidade. HERÓDOTO – Sem dúvida. Agora, o conteúdo desses padres de grande sucesso está asso- ciado à comunicação, não é como o nosso padre Vieira, que tinha uma cultura assom- brosa e escrevia discursos maravilhosos para uma plateia pequena. Assim como os pastores, esse pessoal tem à sua disposição os veículos de comunicação de massa. Hoje, a competição entre as religiões se dá, princi- palmente, na comunicação e não no conte- údo religioso que cada um defende. Não há mais uma discussão sobre dogmas da igreja ou ações de outras religiões. Há um embate de comunicação. Vence quem comunica e dança melhor, quem é capaz de eletrizar. Tenho visto na televisão um pastor de cha- péu que parece um vaqueiro com milhares de pessoas na frente dele. Esse homem é um fenômeno de comunicação. Agora, a igreja católica está reagindo com os seus padres também de comunicação de massa. GRACIOSO – Mas a igreja católica ainda não encontrou a linha de argumen- tação, não definiu com clareza qual o seu contra-argumento. Como exemplo, temos dois casos bem característicos. O primeiro é o padre Marcelo Rossi, com o programa transmitido aos sábados à tarde e a missa em Interlagos que reúne 40 mil pessoas... HERÓDOTO – Ele vendeu 7 milhões de exempla- res do livro Ágape , mais do que o Paulo Coelho. GRACIOSO – Ele também é um fenômeno de comunicação, entretanto escolheu a linha carismática superficial e não promete milagres, pelo menos na te- levisão. Outra linha bem forte é a do Pai Eterno, de Goiás, um programa da Rede Vida com o padre Robson, que é um homem f abuloso, um grande comunicador que partiu para a linha do milagre. Ele diz: “O milagre está ao alcance de quem tem fé e você, crendo no que vou dizer, vai obter milagres também”. Porque a igreja católica está tendo tanta dificuldade em posicionar-se de uma maneira vigorosa diante da ameaça das outras confissões? HERÓDOTO – Existem três maneiras de entrar numa religião: por tradição familiar; por convencimento – se seguir determinada religião, vou para o paraíso; e de livre e espontânea vontade. MÁRIO – Em busca de uma resposta. HERÓDOTO – Veja que fenômeno curioso: es- tive no Cemitério Père-Lachaise, em Paris, para visitar o túmulo de Hippolyte Léon Denizard Rivail, um cidadão conhecido como Allan Kardec, porque a família da minha esposa é espírita. O Brasil é o lugar que mais tem espíritas no mundo. Por causa da minha mulher acabei lendo uma parte da E N T R E V I S T A j a n i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 1 2
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