Revista da ESPM_JAN-FEV-2012

R e v i s t a d a E S P M – s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 44 E N T R E V I S T A çou esse espiritismo de origem kardecista no Brasil, por isso acho que o fenômeno se desenvolveu tanto por aqui. GRACIOSO – E também o fato de que o espiritismo prometia alternativas. Hoje, temos inúmeras confissões competindo, mas houve um momento em que o es- piritismo estava sozinho. MÁRIO – O Natal, por exemplo, é um fenômeno religioso, católico, com o nascimento de Cristo, que é cada vez mais um fenômeno de shopping center. GRACIOSO – No Japão, que é budista ou xintoísta, eles festejam o Natal, portanto não tem nenhum sentido religioso. MÁRIO – Os grandes acontecimentos religiosos estão cada vez menos reli- giosos e mais seculares. As pessoas se questionam se isso realmente acontece e qual o sentido da religião. O espiritismo é quase uma resposta a indagações muito profundas: Será que a minha vida vai con- tinuar? Existe a reencarnação? E ainda tem toda aquela doutrina de não suicídio porque você vai acordar como no filme Nosso lar , lá no umbral. O crescimento dessas religiões é menos uma resposta ao assombro e ao medo e mais um vade mecum , um guia para a vida diária? HERÓDOTO – Exatamente. Veja que fenôme- no interessante: quando os navios partiam dos países católicos – com nomes de Santa Maria, Nina e Pinta –, carregavam a imagem de um santo. Mas você não vê isso nas na- ves espaciais, o que não significa que essas pessoas não tenham religião, mas é prová- vel que cada membro da tripulação tenha a sua. Então, para respeitar a religião do próximo, cada um leva apenas suas convic- ções e não necessariamente seus ícones. As religiões, assim como todas as instituições, se adaptam ou perecem. Alguém já disse que não são os mais fortes que sobrevivem, são os que se adaptam. Fui educado em igreja católica e lembro que era comum ver uma freira. Agora, não vejo freira em lugar nenhum. Lembro que, quando se falava em padre, minha imagem era de um homem culto, inteligente e de batina preta. Hoje, não consigo mais identificar um padre. Rabino, ainda consigo identificar pelas madeixas e seu quipá . Não estou dizendo que isso seja bom ou ruim, apenas que as coisas estão mudando. Está havendo também uma laici- zação da própria religião, não só no que diz respeito ao comportamento dos seus líderes, mas daquilo que se fala no templo. GRACIOSO – O que você citou é me- lancólico, porque esse esforço para se adaptar à era pós-capitalista faz crescer religiões como as neopente- costalistas, que põem de lado a ênfase em valores e falam acima de tudo do interesse imediato da pessoa que eles querem conver ter: faça isto e mais aquilo; pague seu dízimo e seu negócio vai melhorar em uma semana. Signifi- ca que as grandes contribuições que as religiões sempre trouxeram para a humanidade – como a preservação dos valores morais, éticos, espirituais – são cada vez menos importantes. } As religiões, assim como todas as inst i- tuições, se adaptam ou perecem. Alguém já disse que não são os mais for tes que sobrevivem, são os que se adaptam. ~

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