Revista da ESPM_JAN-FEV-2012
s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 – R e v i s t a d a E S P M 45 S o f i a E s t e v e s HERÓDOTO – Concordo. Vejo aí duas formas de religião. Uma é organicamente estruturada, como as igrejas católica, luterana e anglicana, onde há uma estrutura com o pastor, o bispo, o cardeal ou o papa e todos falam a mesma língua e têm a mesma interpretação dos fatos religiosos. Já no pentecostalismo essa estrutura não existe, cada pastor é autônomo e não tem um bispo acima dele, a não ser em alguns ca- sos como a Igreja Universal. Mas ainda assim, o discurso não é o mesmo porque cada pastor interpreta a Bíblia do seu jeito. MÁRIO – Quando você citou o padre que se veste prosaicamente, isso ainda me causa espanto, como o médico que nos seriados de TV não usa jaleco. O ritual da roupa branca é um sinal de respeito. HERÓDOTO – Uma identificação, talvez. MÁRIO – Uma outra expressão emocional, como na eleição do papa, a cor escarlate dos cardeais, a ritualística é linda e gera um grande magnetismo entre os fiéis. Mas não existe nas igrejas neopentecos- tais. Isso não gera uma certa distância? GRACIOSO – A ênfase deles está em outro lugar. A maior parte do culto é dedicada a testemunhos, milagres e exorcismos. MÁRIO – Do “aqui e agora” e não do “lá e então”, que é da igreja católica com o paraíso, o inferno e o purgatório. HERÓDOTO – O fato de os pastores não terem um parâmetro é uma forma de melhor iden- tificação com os seus fiéis. No dia em que os fiéis vão ao templo, vestem a melhor roupa e não dá para identificar o pastor, porque são todos parecidos. MÁRIO – Eles devemter uma razão para isso. HERÓTODO – É diferente quando o padre apa- rece paramentado no altar da igreja. Naquele momento, ele assume a intermediação entre Deus e os homens, coisa que o pastor só faz quando vai ao púlpito. O mesmo ocorre com o rabino na sinagoga, onde todos também se vestem da melhor forma. A única religião onde não há intermediários entre Deus e o homem é o budismo e essa talvez seja sua característica mais interessante. O budismo não se propagou aqui porque ficou restrito à comunidade japonesa, sendo algo incom preensível para o pensamento ocidental. GRACIOSO – Impossível de compreender. HERÓDOTO – Como pode ser uma coisa dessas? O budismo que mais se desenvolve atualmente no Brasil é o tibetano, porque a mídia deu um espaço extraordinário ao Dalai Lama. Mas por trás disso tem um problema político, além de o budismo tibetano ser metafísico. MÁRIO – Significa? GRACIOSO – Que está mais per to do catolicismo. MÁRIO – O budismo tibetano é mais leve? HERÓDOTO – Não, ele é um budismo de crença. Mas o budismo não é uma crença. Existe uma frase de Buda que diz: “Não acredite em ne- nhuma palavra do que eu disser, experimente”. Nenhum líder religioso diz: “Não acredite no que vou dizer”. Gostaria de sugerir um filme chamado Samsara , que mostra um pouco o que é essa crença exotérica do budismo tibetano e faz duras críticas ao budismo. É um filme feito por budistas, que fala da roda da vida, da nossa vivência no dia a dia. GRACIOSO – Como vocêdefineoZenBudismo? HERÓDOTO – O budismo saiu da Índia e foi para o Tibet, assimilando as religiões por onde passava. Quando chegou à China es- tava completamente misturado com as prá- ticas chinesas, o taoísmo e o confucionismo. Quem restaurou essa ligação com o budismo original na China foi Bodhidharma, monge budista fundador da escola Ch’an, que no Japão se diz Zen. O Zen Budismo é uma retomada desse budismo original. Heródoto Barbeiro j a n e i r o / f e v e r e i 2 i
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