Revista da ESPM_JAN-FEV-2012
R e v i s t a d a E S P M – j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 1 2 50 Jesus foi o maior psicólogo, o maior coach , o maior formador de equipe, e assim por diante. Além de esvaziar a grandeza de Jesus, que é incomparável, corre-se o risco de atribuir a Clark Kent o que é possível somente ao Superman . O fato é que Jesus merece nota máxima em todos os quesitos utilizados hoje para medir a excelência de qualquer profissional. Mas o xis da questão é o seguinte: Jesus foi um excepcional “marke- teiro”. Fosse ele uma campanha publicitária, disse Adilson Xa- vier, sua estrutura seria perfeita. “Primeiro, houve um importante período de teaser , com os profetas do Antigo Testamento criando expectativa em torno do Salvador que haveria de chegar. Depois a intensificação do teaser , num misto de aquecimento e pré-lançamento da campanha, com João Batista fazendo a ponte entre as profecias e a efetiva chegada do aguardado personagem”. 1 A estreia de Jesus de Nazaré não poderia ser mais extraordinária e midiática: ajoelhado às margens do rio Jordão, Jesus recebe a visita do Espírito Santo, que repousa sobre ele na forma corpórea de uma pomba, enquanto os holofotes do céu se acendem como moldura para o ecoar da voz do Deus Altíssimo, que declara em alto e bom som: “Este é o cara”. O day after aponta para um conjunto de ações estratégicas que sugerem um planejamento minuciosamente elaborado pelo conselho divino da Santíssima Trindade. Eis uma boa definição de marketing: conjunto harmônico de ações estratégicas que visam gerar con- sumidores e ou usuários de um produto ou serviço. No caso de Jesus, o que seria isso que chamamos de produto ou serviço? Ar- risco dizer que o que Jesus oferecia aos seus circunstantes (clientes) era, nada mais nada menos, do que ele mesmo: “Eu Sou o Cami- nho, a Verdade e a Vida”; “Venham a mim! Andem comigo e vocês vão recuperar a vida”; “Eu Sou a Luz do mundo”; “Eu Sou o pão da vida”; “Eu Sou a Ressurreição e a Vida. Quem crer em mim, ainda que morra, viverá”; e a mais bombástica das afirmações: “Eu e o Pai somos um: ver a mim é ver o Pai”. Não é de admirar que Jesus estivesse ocupado com o que chamamos de marketing de posicio- namento . Essa é a razão por que encomenda uma pesquisa de opinião para identificar o lugar que ocupa na cabeça de seu público: “O que pensam de mim? Quem o povo pensa que eu sou?”. Depois transforma seus discípulos numa espécie de focus group e faz uma pesquisa quali : “E vocês, o que pensam de mim?”. Jesus sabia que a aceitação de sua mensagem estava absolutamente vinculada à exata compreensão de sua identidade: se eles não sabem quem sou, não entenderão o que eu digo, não aceitarão o que proponho, e não serão meus seguidores. Os passos de Jesus seguem um cronograma inteligente, tanto na cronologia quanto na geografia. Começa em Nazaré, sua cidade de origem, e vai caminhando em direção ao mundo gentílico (não judeu), até chegar na Galileia. Primeiro, se revela ao seu próprio povo, depois abre gradativamente a porta de acesso aos estrangeiros. Vai se mostrando aos poucos, criando suspense e interesse nas multidões, num balanço perfeito de apari- ções públicas e afastamento, entremeado de afirmações de impacto. Seus milagres e ações de misericórdia e compaixão são de amplo espectro, mas desenvolvidos com impecável (desculpe o trocadilho) precisão: cura as pessoas certas, no lugar certo, na hora certa, e faz questão de encaminhar cada uma delas aos formadores de opinião e autoridades espirituais do povo. Jesus parece caminhar Teaser , que significa “provocar”, é a técnica usada em comunicação de mercado para au- mentar o interesse de um determinado público a respeito de sua mensa- gem, por meio do uso de informaçõesenigmáticas, chamando a atenção do consumidor para uma campanha publicitária.
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