Revista da ESPM_JAN-FEV-2012

R e v i s t a d a E S P M – j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 1 2 52 sendo reverenciada, fazendo as pessoas se sen- tirem protegidas. – Agora você realmente passou do ponto. Tá pensando que é Deus? – Por que não? Apergunta, portanto, a respeito da legitimidade do marketing religioso precisa ser corretamente elaborada. Não se trata de ser contra ou a favor. Oque se deve considerar é sua dimensão ética. E também, e principalmente, nesse sentido, Jesus é mestre. Considerando ético o marketing cujo conjunto de ações é uma extensão de identidade (comunico o que de fato sou), com legítimasmo- tivações e finalidades (ofereço o que promove o bemcomum), Jesus foi, semdúvida, uma estrela de primeira, para não dizer singular, grandeza. Não falou mentira a respeito de si mesmo, não diminuiu as demandas de seu discurso, não manipulou a fé popular, não prometeu o que não podia entregar, não ofereceu paliativos, não brincou com os sonhos, anseios e esperanças das massas desesperadas, não buscou seus próprios e egóicos interesses, mas deu de si e a si mesmo, derramando sua própria vida para que todos tivessem vida. Provavelmente por essas razões, a afirmação de que Jesus foi uma estrela do marketing seja quase uma blasfêmia. Alguém poderia sugerir que, de fato, Jesus fez o antimarke- ting, ou tenha se recusado a usar os artifícios que hoje conceituamos, pejorativamente, como “marketeiros”. Jesus, por exemplo, não vendeu a alma aos poderosos de ocasião. Não tentou impressio- nar os filósofos gregos e muito menos tentou agradar nem se associou aos senadores e autoridades políticas romanas, além de criar caso e expor ao ridículo os formadores de opinião do judaísmo de então. Para quem pretendia deflagrar um movi- mento universal, é estranho que não tenha publicado um livro, nemmesmo uma espécie de autobiografia promocional, nem tenha sistematizado seu ensino em cinco passos para a felicidade, três degraus para o sucesso ou sete caminhos para a vida abundante. Para piorar a situação, Jesus andava sempre mal acompanhado: seus seguidores imedia- tos eram homens rudes, iletrados, sem berço e sem qualquer expressão social ou coisa a oferecer para alavancar a campanha de salvar o mundo. Vivia se banqueteando com gente de reputação duvidosa e se deixando tocar e abraçar por doentes e moralmente impuros conforme o cerimonialismo reli- gioso da época. Jesus não desenvolveu a indúst r ia dos amuletos religiosos, jamais permitiu que suas roupas e objetos de uso pessoal fossem transformados em fetiche pela superstição popular, não estabeleceu peregrinações para qualquer cidade ou monte identifica- dos como propícios para se buscar a Deus. Omarketingderelacionamentosefundamenta pelaatraçãodenovosclientesearetençãodos jáexistentes,ouseja,enfatizaorelacionamento a longo prazo com o mercado, em detrimento das práticas de transações com objetivos de curto prazo, buscando a fidelização.

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