Revista da ESPM_JAN-FEV-2012

R e v i s t a d a E S P M – j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 1 2 62 de legitimação da sua existência. A religião, como um empreendimento humano de cos- mificação sagrada, transforma-se, assim, em uma agente produtora de sentido para a vida do indivíduo, exercendo o papel de uma ordenadora da realidade humana. A relação entre a religião e a sociedade se entrelaça em diversos momentos da história ocidental. Alternam-se, assim, períodos de baixa e alta dominação, entre a esfera sagrada e a profana. Enquanto na Idade Média a reli- gião comportava-se como força dominadora e condutora das leis morais dos indivíduos da época, a Reforma Protestante, iniciada no século XVI, promove o rompimento do monopólio do sagrado pertencente à Igreja Católica até aquele momento. O protestan- tismo provocou o surgimento de diversas ramificações cristãs, as quais negavam alguns dos preceitos da Igreja Católica e adaptavam a sua doutrina à lógica do período em que se encontravam. Assim, a evolução protestante está relacionada à subtração da sociedade em relação à submissão imposta pela Igreja Católica nos períodos anteriores. A ressignificação religiosa está vinculada ao pluralismo religioso , consequente desse rom- pimento do monopólio sagrado, que multi- plicou o número de organizações religiosas e permitiu que essas fossem consideradas verdadeiras em suas próprias crenças. Acom- panha-se, assim, uma alteração, mesmo que inicial, do cenário religioso brasileiro. Esses novos cultos promovem a migração de fiéis de instituições tradicionais, como a Católica, e, gradativamente, compõem uma nova rea- lidade religiosa. Apropriando-se do conceito desenvolvido por Bourdieu, cria-se um ver- dadeiro mercado de bens simbólicos , no qual as diversas nomeações religiosas competem entre si na conquista de novos fiéis. Esse mercado de bens simbólicos é influen- ciado pela própria racionalidade característica da cultura de consumo , na qual os indivíduos da sociedade atual estão inseridos. Dessa forma, a pluralidade religiosa que compõe o mercado de bens simbólicos provoca a ênfase de afirmação na identidade e na diferenciação, favorecendo o aparecimento de técnicas de marketing aplicadas a estas organizações re- ligiosas a fim de conquistar e manter adeptos. Nesse sentido, a expansão rápida e grandiosa da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) – nomeação pertencente ao Neopentecosta- lismo – desperta discussões que relacionam o emprego do marketing ao seu sucesso. Fundada em 1977, pelo então pastor Edir Macedo, a IURD teve uma trajetória ascen- dente, despertando o interesse da sociedade em relação a suas práticas, sinalizando uma mudança de grande importância no cenário religioso brasileiro. Portanto, o marketing religioso, por meio da pesquisa sobre as crenças religiosas de uma determinada so- ciedade, delinearia uma organização religiosa que agradasse, quase que completamente, a demanda selecionada de fiéis. Contudo, não é possível desprender a IURD do seu agente legitimador – Deus. A reli- gião veste-se de um “dossel” sagrado, que prejudica a relação lógica do homem com as suas crenças. Portanto, ao se considerar que a crença religiosa é formada de uma soma Os serviços prestados pela IURD, desde cultos realizados em seus templos, até a realização de alguns megaeventos, são decisivos para a fixação de uma determinada “visão de mundo”, reforçada pelo desempenho marcante de seus líderes e pastores, o que proporciona uma forte sensação de proximidade com essas lideranças, situaçãofundamentalparaafidelização do indivíduo à igreja.

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