Revista da ESPM_JAN-FEV-2012
R e v i s t a d a E S P M – s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 68 E N T R E V I S T A } Quando as pessoas buscam as religiões, que usam o milagre como apelo, veem que 90% delas são enganação para ganhar dinheiro. ~ GRACIOSO – Vamos falar sobre o Marke- ting das Religiões. Não trataremos ape- nas de técnicas promocionais, mas do contexto em que isto está acontecendo sob dois aspectos principais. Um deles é a ênfase que as igrejas neopentecostais dão ao milagre. A igreja católica é mais cuidadosa nesse sentido. ISMAEL – O outro tema está ligado à posição contrária da igreja católica em relação ao desenvolvimento da ciência, como o uso de preservativos e de células-tronco. O quanto essa postura radical tem afastado os fiéis da igreja católica? GRACIOSO – Podemos ir além, citando o pro- blema do segundo casamento e do aborto. Tudo isso, talvez, enfraqueça a posição competitiva da igreja católica frente a seus concorrentes mais agressivos. PE. CHRISTIAN – Vamos começar com a bioé- tica que abrange todos os assuntos elencados. Em 1971, Van Rensselaer Potter – cientista americano autor do livro Bioethics: bridge to the future – definiu a bioética como uma ma- neira de juntar todos os progressos científicos e tecnológicos sem esquecer a parte humana, a natureza e a ecologia. Hoje, a bioética é tida como a ética da vida, da saúde e do meio am- biente, cuja finalidade é o resgate da dignidade do ser humano em todos os sentidos, além do cuidado com a qualidade de vida das pessoas. Quando se fala em bioética, ninguém é dono da verdade. Nas instituições de saúde e uni- versidades, assuntos como aborto, eutanásia e células-tronco contam com Comissões de Bioética, que reúnem pessoas de vários seg- mentos da sociedade para tomar decisões por meio de um consenso. Essas pessoas precisam ouvir outros pontos de vista e pôr em prática o diálogo. Junto com a bioética, a globalização faz com que não existam mais fronteiras. Sem fronteiras, quem manda no país e no mundo? É o mercado. Dentro dessa globalização, o Governo é apenas um paliativo e as pessoas são descartáveis. Um Ministro cai e ninguém vai atrás para recuperar tudo que ele roubou e ainda colocam outro do mesmo partido para continuar a corrupção. Falta coragem para a sociedade brasileira ir contra esse tipo de ati- tude dentro do Governo. A globalização vive da competição e da concorrência, que levam a humanidade a devorar-se e colocar em alto risco o sistema da vida. Aqui entra a religião. Na sociedade, vamos continuar criticando a situação que vivemos nesta pós-modernidade. ISMAEL – A pós-modernidade que tudo pode. PE. CHRISTIAN – Sim. Não temmais Deus, nem mais verdades. As pessoas vivem por meio das sensações e emoções sem limites. Basta olhar a forma como as pessoas dançam nas danceterias, por exemplo, para ver a “doidice” como estão vivendo. Hoje, boates e danceterias parecem hospitais psiquiátricos. Em algumas igrejas católicas e evangélicas também obser- vamos o mesmo fenômeno. Existem religiões em que a maneira de vivenciá-las nada tem a ver com um projeto de vida, é somente sen- sação. Por outro lado, a modernidade tinha prometido o crescimento econômico infinito, a erradicação das doenças, o prolongamento da vida até a extinção da morte. Só que agora observamos que não é nada disso. Na parte econômica, o bolo cresceu e não dividimos. É importante citar esse contexto da globalização e da pós-modernidade para analisar os fenô- menos religiosos. j a n i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 1 2
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