Revista da ESPM_JAN-FEV-2012

s e t e m b r o / o u t u b r o d e 2 0 1 1 – R e v i s t a d a E S P M 69 S o f i a E s t e v e s } A globalização vive da competição e da concor- rência, que levam a humanidade a devorar-se e colocar em alto risco o sistema da vida. ~ GRACIOSO – A globalização enfatiza a competição. Tudo se resume em compe- tir e ganhar do próximo cada vez mais. É curioso notar que as novas igrejas procuram atrair seus prosélitos prome- tendo fórmulas para eles competirem mais e melhor. PE. CHRISTIAN – É verdade. Essa concorrência desleal que vivemos nos remete à questão da bioética. Queremos ir além das pesquisas científicas e tecnológicas e da questão humana para rever o problema da própria sociedade. Precisamos redescobrir valores e o que nos falta, porque não há mais compromisso na nossa sociedade. Daí a questão do casamento e de todas essas religiões. Então, onde vamos buscar valores como a redescoberta da solida- riedade, da corresponsabilidade, da partilha e do cuidado? Se lermos sobre as religiões na Bíblia e nos evangelhos, veremos que Jesus levou uma vida de solidariedade com os mais necessitados daquele tempo. Hoje, volto à questão da solidariedade e de ter um projeto de vida. Mas a pós-modernidade prega o individualismo, o que transforma a própria religião em uma questão privada. A pergunta que deve ser feita é: para que serve a religião? ISMAEL – Nesse momento histórico vive- mos uma religião voltada para si mesmo e não para o próximo? PE. CHRISTIAN – Exatamente, justamente por essa falta de solidariedade e de partilha. ISMAEL – E isso está permeando não apenas a religião A ou B, mas toda a sociedade. PE. CHRISTIAN – Sim. A pessoa diz: “Voltei-me para o budismo”. Tudo bem. Mas que religião é mais introvertida que o budismo? Nele, estou introspectando e isso é egoísmo. Uma religião é um compromisso, um projeto de vida, um casamento com filhos, uma vida religiosa com a comunidade. Dessa forma, posso viver com o catolicismo, o budismo, o evangelho... Ver a religião como uma filosofia, uma ideologia, uma forma de ajuda, não é um projeto de vida. Certa vez, Leonardo Boff perguntou a Dalai Lama qual era a melhor religião, certo de que a resposta seria o budismo. Mas Dalai Lama disse: “A melhor religião é aquela que aproxima você de Deus, do infinito. É aquela que te faz melhor, mais sensível, mais desape- gado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável, mais ético.” Esse é o projeto de vida da solidariedade. GRACIOSO – Enquanto isso, as novas igre- jas, principalmente as neopentecostais, ganham terreno usando apelos comple- tamente diferentes. Será que a natureza humana não condiz com o princípio e a necessidade de ser solidário? PE. CHRISTIAN – O homem é um ser político, o que significa cuidar dos outros para que haja uma boa convivência entre as pessoas. Esse é o verdadeiro sentido da política, não as “ma- racutaias” que presenciamos todos os dias. O homem, por princípio, teria dentro de si a ini- ciativa de tentar essa convivência. Ainda assim, hoje ele se comporta como um lobo em relação ao outro. É um tentando aniquilar o outro. GRACIOSO – Os antigos filósofos gregos di- ziam que, ao nascermos, recebemos dos deuses talentos e capacidades que devem ser usadas para ajudar à divindade na sua tarefa de cuidar deste mundo, o que não é fácil. Em outras palavras, o homem deve j a n e i r o / f e v e r e i 2 i Pe. Christian de Paul de Barchifontaine

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