Revista da ESPM_JAN-FEV-2012
R e v i s t a d a E S P M – j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 1 2 82 Fazendo o uso da Bí blia como fonte de inspiração e de somente alguns princípios reformados apregoados por Ma r t i nho Lutero, se colocam em oposição à Igreja Católica Romana. Por uma condição exclu‑ dente, são reconhecidos como evangélicos! A inexistência de uma liderança única e a liberdade de fazer uso da Bíblia a partir de interpretações pessoais cria uma teia de igrejas com pouca ou quase nenhuma identidade. Esse fato carrega consigo duas grandes consequências: é impossível agir em bloco e, pela falta de conhecimento da sociedade e dos meios de comunicação, todos são identificados como evangélicos – para o bem ou para o mal! Peter L. Berger e Thomas Luckman em A construção social da realidade, destacam o papel das instituições e como o poder dos indivíduos frente a elas é praticamente nulo. Segundo os autores, há nítidas fronteiras simbólicas entre os que pertencem a uma instituição e todos os aspectos externos a ela, blindando os que estão dentro em relação aos que estão fora. A legitimidade de uma instituição passa, necessariamente, pela relação de pertinência que existe em seus membros, que concordam com as regras e padrões de comportamento previamente estabelecidos e jamais questionados. Esses fatos podem exemplificar as centenas de igrejas existentes, que ajustam o seu discur‑ so a cada parcela da população, criando as tais fronteiras simbólicas e particularizando a relação de pertencimento. São únicas na forma de agir, formam um todo na percepção da sociedade. Identificando a imagem dos evangélicos no Brasil Pierre Bordieu, em O poder simbólico , afir‑ ma que além da dominação clássica entre classes estabelecidas pela força do trabalho e acumulação do capital, há outra que se estrutura tendo como base o poder sim‑ bólico. Esse poder se constrói tendo como alicerces os valores simbólicos: linguagem, conhecimento e obras de arte. O produto linguístico, dessa forma, pode ser visto como fator de acumulação simbólico de capital, estabelecendo parâmetros e verdades. Tendo como base a construção do pensamento de Bordieu para o tema, é possível entender a dinâmica pela qual as matérias apresentadas na mídia impressa são constituídas de sentido e possibilitam a montagem de um cenário do qual todos os indivíduos fazem parte. Deixam de existir classes sociais, passa a existir uma sociedade. Nesse sentido, a imprensa não pode mais ser vista como um veículo que representa ou retrata uma realidade, mas um veículo onde a realidade busca suas referências. A partir daí e na tentativa de entender a ima‑ gem dos evangélicos construída pela mídia impressa, foi realizada nos anos 2000 uma pesquisa exploratória envolvendo os seguintes meios de comunicação: revista Veja , revista Época , revista Superinteressante , revista Isto É , jornal O Estado de S. Paulo e jornal Folha de S. Paulo . Em aproximadamente 900 edições dos jornais e 128 edições das revistas semanais, foi possível obter perto de 200 matérias que tratavam como foco central os “evangélicos”. Alguns aspectos saltaram aos olhos: c há uma homogeneização dos diferen‑ tes perfis existentes entre os chamados evangélicos, sendo apresentados como um grupo único, com o mesmo comportamento e liderança, apontando para um claro desco‑ nhecimento dos jornalistas sobre a estrutura organizacional e histórica que constituem;
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