Revista da ESPM_JAN-FEV-2012
j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 89 Dentre os grupos de respostas, destacamos para comentar, dois aspectos que conside- ramos especialmente relevantes: a solução individual e a busca de sentido para vida. Para tanto, recorremos a Jurandir Freire Costa (2010, p.11-26) que aborda a tese da “saída da religião”, reafirmada por diversos pensadores nas três últimas décadas, pela qual avançaríamos no sentido de abandonar valores morais judaico-cristãos, mergulhan- do na decadência ética. Diante dessa visão pessimista, Costa (2010), defende a ideia de que os dilemas éticos en- frentados ainda podem ser pensados dentro da tradição leiga ou espiritual do Ocidente. Consideramos, de forma tateante, que as res- postas dos professores ilustram essa percep- ção. Citando Charles Taylor, Costa (2010), lembra que o “sentido da vida” só se torna uma questão no momento histórico atual, marcado por um desencanto pelo mundo e pela emergência do “ self entrincheirado”, um sujeito psíquica e moralmente equidis- tante dos valores de sua coletividade. Nesse contexto, a “falta de sentido” surge ligada à desorientação diante da liberdade para agir moralmente sem o aval de um terceiro superior e exterior às motivações utilitárias (espaço ocupado de forma fragmentada e individualizada pela religião). As respostas dos professores ilustrariam também as ideias de Derrida, Agamben e Zizek, citados por Costa (2010), por tentarem extrair do legado espiritual judaico-cristão um critério universal para discriminar o que é ético nas condutas humanas. A apropriação individual das ideias de justiça e amor ligadas à religiosidade situa, contudo, essas ideias não como normas inflexíveis, mas como balizas para tomar decisões e estabele- cer o relacionamento com os outros. Transi- tando entre a obediência a uma moralidade válida para todos (por vezes condensada na noção de religião), e o respeito à singularidade da pessoa. “Aplicando à vida o que a tolerância prega: intransigência em relação aos prin- cípios; transigência em relação às pessoas” (FREIRE COSTA, 2010, p.26). Marketing, perfis e motivações: (des)associações Aqui, em certamedida, o texto se descola da re- ligião, uma vez que a discussão poderia partir de qualquer questão e não necessariamente de uma pergunta ligada à religiosidade. Conside- ramos, contudo, a aparente desconexão entre o perfil conhecido de alguns respondentes e suas respostas um bom pretexto para fazer comentários sobre o marketing. Convidamos, portanto, o leitor a associar perfis dos respon- dentes às suas possíveis respostas: Noções de justiça e amor, herdadas do legado espiritual judaico-cristão, ainda parecem capa- zes de fornecer sentido para nossas decisões e ações quando nos deparamos como sempre enigmático ponto de vista do outro.
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