Revista da ESPM_JAN-FEV-2012

R e v i s t a d a E S P M – j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 1 2 94 MÁRIO – Sou chefe do Departamen- to de Humanidades e professor de psicologia, comportamento do consumidor e história das religiões. Religião, futebol, política não se discutem. Portanto, não iremos defender a verdade de nenhum dos credos ou vertentes presentes. A ideia é focar a discussão em três pilares. O primeiro é o que atual- mente mais motiva os fiéis: medo; assombro; busca de sentido; soli- dão; ou comunidade X isolamento provocado pela internet. Segundo pilar: o que as organizações religio- sas querem? A primeira hipótese é angariar mais fiéis e, portanto, mais receita. E, finalmente, que estratégias de marketing são em- pregadas por essas organizações? GRACIOSO – Todos nós temos um interesse natural pela religião. Na fase de preparação dessa edição entrevistei personalidades, li de- zenas de artigos, estudei bastante e a palavra que melhor define tudo que ouvi e li é pluralidade . É im- pressionante como é difícil chegar a um consenso nesta questão e estabelecer metas claras. Proponho que comecemos a falar sobre o que motiva os fiéis. Segundo o IBGE, a Igreja Majoritária Católica perde 1% de fiéis por ano no Brasil. São dois milhões de pessoas que anual­ mente mudam de lado, em geral, para as novas confissões neopente- costais. Por que isso acontece com tanta intensidade? JORGE – Antes de tudo, religião se discute sim. E essa discussão é eterna. Quanto ao enorme trânsito religioso, esse processo vem ocor- rendo desde o século XVI, mas se acelerou muito com a modernidade, a globalização, a internet e a revo- lução das comunicações. A geografia mundial também mudou, o mundo está em acelerada transformação. A cada semana surge uma novidade científica que interfere na nossa visão do mundo. Com isso, aquelas religiões que estavam mais acos- tumadas aos servos andando atrás delas por milênios agora precisam resolver novas questões e têm difi- culdade em responder com rapidez às demandas mais emergentes. GRACIOSO – A palavra-chave aí é demanda . JORGE – Demanda, rapidez e acele- ração. As religiões, às vezes, se veem no meio do caminho entre suas tradições e as demandas dos fiéis. REVERENDO ALDO – Como temos o acelerador de partículas, temos o desacelerador de fé, porque as igrejas históricas são paquidérmi- cas. Não é que demoremos a dar a resposta, não damos a resposta. Inácio de Loyola, fundador dos jesuítas – que formam a maior instituição religiosa do mundo –, costumava dizer que “não importa com o que a pessoa venha, importa que saia com o que é nosso”. Mas as pessoas vinham com uma visão muito reduzida e hoje elas vêm com uma visão mais aberta. O ser humano quer ser feliz. Às vezes, ele não encontra a felicidade onde sonhou, nos bens materiais ou em um novo emprego. É quando sente aquele vazio e vai buscar a fé. Alguns cientistas dizem que tra- zemos o DNA de Deus e buscamos por isso. Aí vem algo fundamental que está na sua trilogia. Entendo que a busca dos fiéis é sadia. Mas não sei se temos interesse em usar o que estamos recebendo de forma sadia, se não aproveitamos dessa sede para nos locupletar. Isso existe em todas as religiões, em espe- cial nas novas. Com o tempo, as pessoas começam a se questionar sobre o que encontram lá. E, se a sacristia está pior que o mundo, fico no mundo. QUIROGA – Dois pontos básicos de- finem se nos aproximamos ou não de uma religião: um plano mestre e o acaso. Quando se depara com isso, a pessoa pode se convencer de que o universo respondeu a uma inteligência superior oculta com uma engrenagem, um destino, um movimento e se aproxima de algu- ma religião. Outra possibilidade é achar que nada está relacionado e virar agnóstica. Essa motivação é intrínseca ao ser humano, inde- pendente e anterior ao surgimento de qualquer religião, cuja razão de ser responde a esse impulso. As pessoas costumam imaginar que a fé é um esforço que fazemos para } O e spet ácu l o do r i co é no Moste i ro de São Bento, que f ica aba r rot ado aos domi ngos . Na per i fer i a , as pessoas l otam as igre j as neopentecosta i s . ~

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