Revista da ESPM_JAN-FEV-2012
j a n e i r o / f e v e r e i r o d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 97 } Hoj e, tem pastor que desponta no segmento evangél ico usando chapéu de bo i ade i ro e fa l ando a l i nguagem do povo para ar re banhar mu l t i dões . ~ REVERENDO ALDO – Mas espetáculo sempre houve. Moisés subiu no monte para ser visto e foi espetacu- lar. Quem não é visto, não aparece. JORGE – Desculpe, mas nem toda forma de visibilização é espetáculo. REVERENDO ALDO – É espetáculo. PASTOR ED RENÉ – Espetáculo no sentido de fenômeno artificializado é pejorativo. Agora, um fenômeno visível é um espetáculo que não foi forjado ou construído. É uma mani- festação. Como o Reverendo Aldo citou, Moisés descendo do Sinai com o rosto resplandecente é um espetáculo. Não é artificializado. Ele desce de uma experiência que teve com o Divino. PASTOR RINA – É a definição do conceito espetacular. JORGE – Eu discordo. QUIROGA – Independentemente da classe social e do lugar do espetá- culo, há uma coisa comum a todos os seres humanos no processo es- piritual, que é sair de uma relação distante, rigorosa, punitiva e cul- posa com Deus para ingressar num ambiente onde Deus é um amigo. Uma pessoa da mesma categoria fazendo um espetáculo divino é um sucesso porque está dentro de casa, é familiar. Não é alguém que me faz passar por provas terríveis para chegar lá. MÁRIO – Hoje, as pessoas buscam coisas diferentes do que buscavam há mil anos, independentemente do que as instituições religiosas oferecem. O segundo ponto é a questão do espetáculo, não como algo pejorativo, mas como uma maneira de transmitir o conceito religioso de forma palatável, tanto é que, num dado momento, a igreja aboliu a missa em latim e passou a fazê-la em português para que fos- se mais entendível. Os padres Fabio e Marcelo, que vendem milhões de CD´s, estão mais próximos. A Noviça Rebelde estava próxima. No filme Mudança de Hábito , Whoopi Goldberg faz coisas para aproximar o culto das pessoas. RE V ERENDO ALDO – O f i l me Shangri-Lá , a busca. MÁRIO – As pessoas estão buscando coisas diferentes, mas é preciso avaliar o que as instituições reli- giosas estão fazendo e para que público. Sei que a comunidade judaica não luta para ter mais fiéis. Por quê? RABINO MICHEL – Isso se deve à nossa visão clássica de que o judeu é aquele que nasce de um ventre materno judaico. Nossa transmissão é matrilinear, de mãe pa ra f i lho ou, event ua lmente, quem se converte ao judaísmo por iniciativa própria, que é testada mais de uma vez. Na primeira vez, o rabino deve mandar a pessoa embora para casa a fim de pensar um pouco mais. Nessa discussão, junto com o fenômeno de que as pessoas não querem versões insti- tucionalizadas da espiritualidade, vem outro extremo preocupante: a versão mais institucionalizada da religião, que é o fundamentalismo existente em todas as religiões. São aquelas pessoas que buscam uma versão mais rígida, mais inflexível e menos moderada da religião. É um fenômeno do nosso tempo. Moisés também foi citado e o interessante na sua biografia é que ele tinha um problema de fala. A Bíblia não cita exatamente qual. Uma das possibi- lidades é que ele era gago. PASTOR ED RENÉ – Pesado de língua. RABINO MICHEL – Exatamente, isso é tudo que fala o texto. Ao mesmo tempo, no último livro do Penta- teuco – Deuteronômio –, ele faz um enorme discurso de despedida, do primeiro ao último versículo, que é uma grande revisão do que tinha acontecido até aquele momento. O que aconteceu comMoisés? Ele jus- tifica para o arbusto incandescente que não vai libertar os israelitas por- que não consegue falar. Deus coloca o irmão dele como porta-voz. Mas o que acontece com esse homem que, ao final, faz um discurso bonito, que nos deixa absolutamente presos ao texto? Ainda bem que Moisés não falava bem, porque se ele fosse um bom orador, provavelmente, teria se perdido na própria eloquência, nos slogans , nas declarações e não teria realizado esse trabalho.
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