Revista da ESPM JAN-FEV_2007

102 R E V I S T A D A E S P M – JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 Mesa- Redonda papel cidadão que a empresa tem de ter – a empresa não deve viver para si; ela vive para a sociedade. Essa espi- ritualidade da empresa, esse dar, essa responsabilidade social – e tudo mais – têm de partir da alta cúpula. É muito difícil fazer os nossos colaboradores viver uma espiritualidade se a própria cúpula da empresa não vive. AUGUSTO – Seguindo essa linha, não é a alta cúpula que é difícil convencer ou trabalhar esse tipo de assunto; é a “média cúpula”. Falando da média cúpula e do cidadão que trabalha na empresa, hoje em dia, esse “quem sou eu” que o Ken falou está acon- tecendo muito mais para quem está trabalhando, e tem trazido uma re- definição de algo importante. Quando se pergunta “quem sou eu”, a média gerência ou quem está trabalhando, eles redefinem o sucesso. A dificul- dade da média gerência em entrar em contato com assuntos desse tipo é porque ainda não é alta gerência. JR –Acho que, nessa divisão que você estabelece, em três níveis: o nível de cima muda a empresa, o de baixo muda de emprego e o do meio fica sem escolha... AUGUSTO – Concordo com o Prof. Gracioso, quando diz que a empresa pode ser lucrativa de formas diferentes. A questão é olhar o prazo. A curto prazo, com uma estratégia de mar- keting, é possível fazer uma empresa muito lucrativa. A visão que tenho e que compartilho como Rodrigo é essa visão do prazo, que sustenta não só a empresa em si, mas seus funcionários e a sociedade. Hoje, os funcionários estão sabendo redefinir sucesso e estão mudando. Eles querem trabalhar num lugar que trabalhe simultaneamente para a sociedade, para a empresa e para si. Sobre esse prisma da espiri- tualidade nos negócios, acredito que – com o tempo – mais pessoas irão dizer: “Não quero trabalhar nessa empresa que simplesmente me dá o dinheiro. Quero trabalhar numa empresa queme dê dinheiro, lucro ao seu pessoal, mas também lucro social, crescimento pessoal”. MARIO – Confesso que continuo com enorme dificuldade para entender o que é espiritualidade nas empresas. Não podemos ter mais exemplos práticos? A revista Exame saiu com este tema, em 2002, que tem até uma entrevista com o Prof. Gracioso... GRACIOSO – Mostra que sou per- sistente. MARIO – A Unilever, por exemplo, para ser uma empresa espiritualizada, deveria fabricar todos os produtos de uma forma ética, socialmente res- ponsável, sem testar em bichos etc., e acho que não é isso que acontece. Os produtos dela são anunciados para aumentar a auto-satisfação das pes- soas no sentido de status , shampoos maravilhosos para as mulheres se sentirem fantásticas, o que está longe de um conceito pessoal; as marga- rinas são vendidas para aumentar o lucro... Os seus produtos não têm nada a ver com qualquer dimensão espiritual. E acho que são pouquís- simas as empresas que têm. Trabalhei numa multinacional – não vou citar o nome – que testava os produtos nos olhos de coelhos, e os deixava cegos – para poder fazer um shampoo que não ardesse. O diretor sai da empresa na sua BMW blindada, não dá con- tribuição para ninguém, fecha o outro no trânsito, se desgostar da empresa, ele muda, como as pessoas mudam de 2006 para 2007, no ano novo. Por outro lado, conheçouma empresa que contratou ex-presidiários, ex-drogados e treinou-os.Achoque issoéumexem- plo prático de alguma coisa ligada a uma dimensão mais espiritual. Quero dizer, dar uma chance além daquilo que me é cobrado. Essa questão do Tsunami é fantástica, mas acho que é mais uma ajuda social, como há muitas empresas no Brasil que fazem. E quando se fala de responsabilidade social, é muito bonito vermos empre- sas fazendo isso. Normalmente se faz comcriancinhas porque dá ibope; não fazemcomidosos porque eles nãodão a mesma visibilidade. Acho que até a responsabilidade social é uma grande “jogada de marketing” das empresas. Os alunos – que vejo fazendo pós- graduação na Escola – não escolhem as empresas pela responsabilidade social, nempor seremespiritualizadas; escolhem as empresas onde podem fazer uma carreira internacional, onde vão ter grandes salários, e chegar à chefia, independentemente dos va- lores delas. Infelizmente, isso é fato. GRACIOSO –Queropôr emdiscussão outra faceta deste nosso assunto, que tem a ver com a ética protestante. “OLHAVAM A FIRMA COMO UM ENTE, AO QUAL DEVERIAM SERVIR - ESTA É A ESSÊNCIA DA ÉTICA PROTESTANTE.”

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