Revista da ESPM JAN-FEV_2007

103 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M Sobre espiritualidade Acho que o Thomas Mann – quando escreveu a saga dos Buddenbrooks, de Hamburgo – tinha acabado de ler o Max Weber. Então, ele colocou, naquela família, os valores que Max Weber define como típicos da cultura da ética protestante. Acreditam que, nesse caso, a religião é mais conse- qüência do que causa. A causa são os valores culturais de uma determinada sociedade. Os Buddenbrooks, de pai para filho, ao longo de gerações, man- tiveram o seu negócio, porque olha- vam “a Firma” como um ente ao qual eles deveriam servir. Esta é a essência da ética protestante. Os executivos e, acima de tudo, os empresários olham a empresa como algo que transcende a sua própria importância, que vai alémda sua vida e a quemeles devem servir. A antítese naturalmente – não quero dizer que seja católica – é aqui- lo ou aqueles que olham a empresa como uma oportunidade para dela servir-se. E aí está toda diferença.Acho que quando alguém olha a empresa como um ente inviolável – que vai além da vida humana – e que precisa de todas as maneiras ser protegido, acariciado, eternizado, os valores espirituais se tornam mais evidentes. Não é possível – e oAugustodisse bem – perenizar uma empresa através de valores materialistas ou imediatistas. É uma armadilha. Gostaria de ver isso discutido. RODRIGO – Acho importante dis- tinguir ética de espiritualidade. Ética está no campo de convenções que favorecem a vida em sociedade e vão ao encontro de um processo cul- tural, político, econômico. E a ética é muito importante, nas organizações humanas, porque temuma dimensão explícita até por uma questão de comunicabilidade, articulação entre as partes que constituemuma organi- zação. Mas – falando de espirituali- dade – acho que estamos indo além – questão de transcendência. Ousaria dizer mais: todas as empresas, de al- guma forma, têmuma espiritualidade presente na sua organização. O que as distingue é a intensidade – em que medida uma organização permite o pleno aproveitamento, ou o índice de aproveitamento que ela tem, do potencial espiritual coletivo. Quando há umambiente organizacional onde as expressões, a cultura, a liberdade, os métodos, processos, favorecem o diálogo, a interação, integração; onde podemos dizer que existe vida em toda parte, essa empresa é mais espiritualizada, mais efetiva, porque não conta só comomelhor criador de riqueza – que é própria criatividade humana –, como também é uma empresa onde as pessoas são mais felizes porque estão menos sujeitas às tensões. Quando há apenas uma relação de obediência, disciplina, quase uma anulação do indivíduo, é evidente que ele pode até dar uma contribuição para o trabalho, mas será uma contribuiçãomecânica; não com o entusiasmo e a qualidade, se estivesse fazendo aquilo com alma. Então é importante distinguir ética de espiritualidade, pois espiritualidade é algo que transcende, e partir do pres- suposto que toda organização que funciona é porque há gente dando vida com idéias, pensamentos, von- tades. Podemos falar em que medida a espiritualidade está permeando, proporcionando espaço para uma plenitude do aproveitamento dos talentos individuais que constituem a empresa. JAIR – Estamos todos de acordo em que a espiritualidade transcende tudo

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