Revista da ESPM JAN-FEV_2007

desconfiança gera metas de performance obscu- ras e geralmente interrompe as comunicações organizacionais, processos e relacionamentos críticos (Burack, 1999). Clareza e transparência são remédios (qualidades) indispensáveis em situações dessa natureza, em nossa opinião. Já a remoção do medo pode ajudar a se alcançar uma performance superior, segundo pesquisadores do movimento espiritual (Laabs, 1995). Matos (2001, p. 15) acrescenta um outro elemento ao rol das críticas, isto é, o fato de que nossa sociedade é fortemente impregnada pelos valores da tecnologia. Em função disso, a mente humana é altamente influenciada por essa visão, assim como pela tendência em transformar tudo em números, processos, formulários, modelos e máquinas. Con- seqüentemente, somos induzidos à materialização e robotização do nosso comportamento. Acontece que não somos máquinas. Somos seres pensantes e inteligentes,embora às vezes nos falte a sabedoria para reconhecer isso. Matos (1998, p. 10) analisa que“(...) O desafio,hoje,é marcadamente ecológico e espiritual: a busca incessante da qualidade indi- vidual,social,ambiental, institucional,empresarial.” Portanto, é chegado o momento de enfrentarmos esses males por nós mesmos criados. Para Matos, ainda, a solução está na dimensão espiritual, da unidade e da visão do todo em funcionamento. Em resumo, de uma concepção integral da existência, sem a qual há o vazio e o caos. No que concerne à direção das empresas, que representa o outro lado da questão, seus proprie- tários e acionistas não perceberam que cabe a eles igualmente, segundo Oliveira (2001, p. 38), desafiar o estabelecido a fim de atender dois ob- jetivos básicos: Desmassificar o homem , descortinando o ser espiritual presente em cada um dos funcioná- rios de suas empresas; e Influenciar o meio , para que a oferta de em- prego no mundo seja compatível com a necessidade humana (embora difícil, mas não impossível). Hawley (1995) entende que as questões pertinentes à produtividade, organização, finanças, custos, lucros, lado humano, cultura, comunicações, re- lacionamentos e disposição moral continuarão presentes e serão tão fundamentais como antes. Mas esse autor propõe um modelo administrativo que consiste em quatro agendas superpostas e interdependentes, uma das quais – a nova – é o espírito. A primeira parte representa a cabeça, que envolve questões sobre como formar e dirigir a empresa, isto é, o modo de estruturar as coisas para que funcionemadequadamente.A segunda diz respeito ao coração, onde se concentram questões devalorhumanocomodignidade,trabalhodeequipe, disposiçãomoral e verdade.A terceira está ligada ao corpo. Essa agenda volta-se ao bem-estar no LT. Ela abarca, naturalmente, as questões relacionadas à saúde dos empregados e à saúde coletiva do corpo da empresa. A quarta e última é a do espírito. Essa agenda, segundo Hawley, implica numa série de perguntasmuitodifíceisdeserrespondidas–Briskin (1997) também formula, na essência, as mesmas questões –,pois elas nos conduzemameditar sobre qual o sentido de tudo; o nosso objetivo no trabalho e na vida; quem somos; para onde tudo isso está nos levando; sobre o benefício que o nosso trabalho está levando ao mundo e assim por diante. Ou seja, questões de natureza transcendental e que nos conduzem ao âmago do nosso ser, da nossa origem, da nossa missão pessoal etc. Questões, enfim,quenosremetemàsrespostasdosporquêsda vida. Como diz Matos (2001, p. 14):“É preciso obter lucros crescentes,criar amelhor tecnologia,garantir aqualidadedaproduçãoedoproduto,masé impres- cindível que tudo isso tenha sentido transcendente, pois do contrário a fragilidade humana põe tudo a perder. Que o digam os impérios econômicos que viraram pó no decorrer dos tempos.” Portanto, a questão espiritual (ou fator espiritual) – ao que tudo indica – não vem arrasar os padrões estabelecidos.Ao contrário,vemacrisolá-los através da incorporação de novos valores e elementos. Pelo que depreendemos, vem ajudar as organizações (o homem) a retificar sua rotina autodestruidora, mes- quinha,inconseqüente e cínica.Vem,enfim,mostrar à humanidade um caminho mais seguro, sensato, justo e realmente adequado à noção de progresso por meio – conforme Moggi e Burkhard (2004) – da elevaçãodosníveisdeconsciênciadaspessoasedos grupos sem abdicar dos resultados empresariais. A seção seguinte apresentará algumas definições que certamente ajudarão a clarificar tais propósitos. 3. MAPEANDO O SIGNIFICADO DA EAT Definir a espiritualidade não é abso- lutamente uma tarefa muito fácil até porque, de ummodo geral, as pessoas têm diferentes visões e interpretações sobre o assunto, alicerçadas, via de regra, em suas convicções religiosas. Não é nossa intenção fazer a apologia desta oudaquela religião.Acreditamos que o simples fato de se professar uma religião é, em si mesmo, positivo. Como veremosmais adiante, a religião – seja qual for – traz em si a noção de espiritualidade. Assim, para Mitroff e Denton (1999a, p. 46), “Espiritu- alidade é o sentimento fundamental de que você é uma parte conectada com todas as coisas, o universo físico inteiro e toda a humanidade. É tam- bém a crença de que há um poder maior ou Deus – seja o que for e seja qualquer o nome que chamemos isto – que governa tudo. Espiritualidade não é apenas acreditar que todos têm uma alma, mas saber isto e estar em constante comunicação com a alma de qualquer pessoa.” O’Donnell (1997), a seu turno, es- clarece que espiritualidade envolve estudo e desenvolvimento de valores humanos, e não prática de rituais. Ora, a primeira dimensão (valores) está as- sociada à conduta calcada no bem, ações fraternais, busca de aperfeiçoa- mento moral, entre outras coisas. Já a segunda (práticas), independente de um credo específico, está asso- ciada às orações, preces, vibrações, meditações, estudos etc. De qualquer forma, tais iniciativas estabelecem uma base comum às religiões. Cor- retamente O’Donnell (1997) afirma que a espiritualidade é inseparável 1) 2) - - g s Anselmo Ferreira Vasconcelos 113 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M

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