Revista da ESPM JAN-FEV_2007
licidade tanto para a própria pessoa quanto para os outros. O “amálgama espiritual” ainda expressa claramente a preocupação com o bem-estar do próximo (solidariedade e respeito ao semelhante). Assim sendo, não é imprescindível estar ligado a uma religião, seita ou sistema metafísico para desenvolver tais qualidades. Já Hawley (1995, p. 17-18) vê a espir- itualidade como objetivo e religião como caminho, e o mesmo autor apresenta as diferenças entre religião e espiritualidade, conforme constam no quadro 2. Seja como for, a espiritualidade abarca elementos extremamente poderosos. Pode-se afirmar, com base no que ressuma da literatura consultada, que ela remove o que há de “pior”, ao mesmo tempo deixando (ou ativando) o que há de “melhor” em cada um de nós. No LT ela se exterioriza nas pessoas de várias formas, mas sem- pre atrelada a alguma sensação ou sentimento positivo e de bem-estar. Por exemplo, Pierce (2001, p. 86-87) lembra que parte da EAT é assegurar que os empresários e executivos vejam os benefícios de um ambiente de tra- balho feliz . Omesmo autor ensina que EAT diz respeito à evangelização, não por meio de proselitismo ou de uma forma fundamentalista, mas de um tipo estribado mais em ações do que empalavras. A disciplina da EAT pode ser praticada, em sua opinião, sem a necessidade de se forçar as nossas crenças religiosas emninguém. E con- clui que o propósito dessa disciplina deve ser o de converter as pessoas não ao nosso modo particular de pensar, mas a uma vida melhor no trabalho, o que mostra, em nossa visão, a im- portância do assunto. 5. ESPIRITUALIDADE NAS EMPRESAS Considerando que a maioria das pessoas suporta uma fé religiosa ou noção de espiritualidade, é natural supor que elas carreguem suas con- vicções para os LTs. Pode-se dizer que as suas atitudes e comportamentos tendem a refletir o grau de afinidade e congruência comos quais desposam tais crenças e princípios. O mesmo ocorre com o comportamento das organizações, pois convém recordar que as empresas são formadas por pessoas que para lá levam toda a carga de valores e ideais que as sustentam. Portanto, a prática empresarial tende a espelhar exatamente aquilo que seus componentes acreditam e defendem inclusive os aspectos morais (Ander- son, 1997). Quando a gestão de uma organização é movida por princípios elevados, torna-se, nas palavras quase poéticas de Neal (1999), um negócio consciente, indo além da responsa- bilidade corporativa, incorporando valores básicos e idéias calcadas no espírito para melhorar o ambiente em que ela atua e inspirando seus esforços e iniciativas em assumir mais responsabilidade pelo abastecimento da alma humana. Com propriedade, Oliveira (2001) argumenta que as empresas jamais poderão tratar o assunto espirituali- dade de forma tão abrangente e direta como as religiões o fazem. Ele lembra que cada instituição tem a sua função específica.Noentanto, ele ressalvaque as empresas detêm um enorme poder paramudar – paramelhor, obviamente – o mundo e as pessoas. Para Oliveira, talvez não exista outra instituição – ex- ceção da família – com tal poder, nem mesmoa religião.De fato, sãomuitas as evidências a corroborar tal assertiva. Segundo Oliveira (2001, p. 67), o trabalho das empresas e das religiões na espiritualização das pessoas deve ser de complementaridade, tendo-se em vista que: v As religiões mostram-nos o caminho. v As empresas nos dão a oportunidade de trilhar o caminho. v As religiões ensinam o respeito e o amor ao próximo. v As empresas nos dão a oportunidade de amar e respeitar o próximo. v As religiões nos ensinam a orar e as empresas nos dão a oportunidade de arar. Hawley (1995) interpreta o que está acontecendo como a chamada do objetivo, do significado e do caráter da vida e nos negócios; é a chamada do espírito que não se destina somente aos indivíduos. Briskin (1997) oferece outra reflexão intrigante, isto é, as organizações refletem a luz da socie- dade mais ampla. Para esse autor, o que acontece na sociedade – perda de valores essenciais, utilização de bodes expiatórios e pânicopor soluções –, re- verbera nas empresas.Admitamos que a relação causal é consistente. Mas Briskin (1997) sensatamente adverte sobre odesafiode se criar cenários que representem o ser humano como um todo, o que implica, inicialmente, em enfrentar a dinâmica da sombra. No plano mais prático, Matos (2001, p. 15) considera que a abordagem espiritual no contexto das empresas é caracterizada por: v Verdades comuns . A filosofia da empresa. v Propósitos institucionais . A missão da empresa. v Orientação à ação . As políticas organizacionais. Anselmo Ferreira Vasconcelos 117 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M
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