Revista da ESPM JAN-FEV_2007
v Valorização humana . A essência da liderança e do negócio. Cavanagh (1999) nota que a ética nos negócios e espiritualidade po- dem suportar um ao outro porque existem muitas semelhanças entre suas metas e aspirações. Sob a pers- pectiva religiosa, Friedman (2001), a propósito, ao examinar o impacto do judaísmo nos negócios, também destaca a questão ética. Nesse ponto da investigação emerge, portanto, o fato de que a conduta ética constitui um dos pilares da espiritualidade. Por conseguinte, sugere-se que quanto mais sintonizadas estiveremas pessoas e organizações com esse valor basilar mais avanços se obterão no progresso moral humano. Neck e Milliman (1994), por outro lado, vislumbram a possibilidade – plausível e desejável, ao nosso ver – de que, no futuro, a missão das empresas serámais voltada aos propósitos mais elevados de con- tribuição ao padrão geral de vida e qualidade da sociedade. Sob tal pres- suposto, o termo lucro serámenos um fim e mais um meio da atividade em- presarial. Em termos de competição, Pierce (2001) argumenta que existem inúmeros casos de empresas que são bem-sucedidas sem a necessidade de esculhambar seus concorrentes. Já paraOliveira (2001), espiritualidade na empresa dever ser vista como ação da religiosidade, ou seja, o funcionário pôr em prática – em favor do próximo – o que sua religião prega. Assim, a empresa que cultiva a idéia de Deus em seu ambiente “(1) transcende o sentido de identidade do funcionário, istoé, respeitaevaloriza-o independen- temente de sexo, profissão, cor, raça, crença e ideologia; (2) crê que cada ser humano é portador de uma essência superior, ou de uma centelha divina; (3) respeita a condição evolutiva de cada funcionário; e (4) procura resolver, sem paternalismo, as dificuldades sociais e culturais do funcionário” (p. 140). Como a maior parte das correntes religiosas ensina a prática do amor, da caridade, do respeito ao próximo e do bem sem limites – virtudes, aliás, que consignam respeito e admiração aos seus portadores independente de suas crenças particulares –, a rigor deveríamos, de fato, nos mirar em tais recomendações – inclusive as organizações humanas nas dimensões apropriadas. Afinal, as pessoas, em sã consciência, gostam de ser bem trata- das, respeitadas e atendidas. Assim sendo, poderíamos, por exemplo, ser mais exigentes conosco e com nossas organizações quando nos coubesse implementar mudanças. Uma em- presa espiritualizada tende – combase no exposto – a ser mais receptiva à criação de condições para realização e felicidade dos seus funcionários. Empresas com esse perfil permitem que seus colaboradores contemplem outros aspectos da vida, além de facilitar-lhes (Levering, 1997) os compromissos com a família, amigos e hobbies pessoais. Elas compreen- dem que a qualidade de vida é coisa séria e buscam proporcionar aos seus funcionários, de todas as maneiras possíveis, meios para que dela desfrutem. Matos (1998), a seu turno, observa que sem um projeto de empresa voltada à felicidade, cria-se espaço para empresas violen- tas (profundamente materializadas), cujas manifestações, desde tempos remotos, ganharam destaque após a Revolução Industrial e na pós- modernidade. Essas organizações são caracterizadas pelo obsoletismo planejado de produtos e tecnologias e pela ambição desmedida e o lucro voraz que reduzem a qualidade de vida. Sua ênfase está em vencer, vencer e vencer, custe o que custar. Freitas (2002) asseveraqueo individua- lismo e a racionalidade instrumental exacerbadas só podem produzir um mundo de egoístas e cínicos, o que não interessa a ninguém. Aliás, tais características constituem a antítese dos postulados discutidos até aqui. Afortunadamente, a espiritualidade está em pauta nas organizações (O’Donell, 1997), e a felicidade no LT é, inegavelmente, uma das suas mais cristalinas manifestações. No mesmo diapasão, Matos (2001, p. 35) reconhece que “A felicidade é um bem essencial de empresa, pois é fator de produtividade e garantia de renovação contínua. A pessoa fe- liz está aberta às transformações e à espiritualidade.” Matos (2001) acres- centa ainda que, como princípio or- ganizacional, a felicidade funciona como o meio social que proporciona bem-estar de espírito (sensação de paz), assim como estar bem, que quer dizer voltar-se ao outro (nosso companheiro de jornada, nosso cliente etc.), contribuindo para a melhoria das condições de trabalho. E como resultado se tem a maior motivação do homem: realizar, realizando-se. Todavia, tais estados só são alcançados quando ocorre a valorização do ser humano. Pode parecer até um pouco piegas nos tempos atuais falar de valorização humana. Mas, por mais paradoxal que possa parecer, esse é o caminho mais lógico a ser percorrido. Espiritualidade no ambiente de trabalho 118 R E V I S T A D A E S P M – JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007
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