Revista da ESPM JAN-FEV_2007
humana não “rezam” pelos ditames da espiritualidade. Embora existam muitos outros benefícios associados à espiritualidade, dadas as limitações de espaço, nesta seção nos detivemos aos essenciais. 7. DESAFIOS, IMPLICAÇÕES E RECOMENDAÇÕES PARA FUTUROS ESTUDOS A essa altura da investigação revelou- se que os benefícios e os desafios da ELT são igualmente significativos. Migrar de um padrão assentado no materialismo exacerbado e no lucro inconseqüente para a proposta espiri- tualizante envolve a superação de gigantescos obstáculos. Entretanto, se as dificuldades são consideráveis, as recompensas, aparentemente, tam- bémo são. Não é uma tarefa fácil, mas é perfeitamente viável. Para Mitroff e Denton (1999a), as organizações só enfrentarão os desafios desse milênio se lidarem com as preocupações liga- das à EAT. Em nossa visão, tais preo- cupações estão fortemente apoiadas na concepção de progresso humano. Neal (1999), por sua vez, especula que as empresas deverão ser administradas de maneira diferente neste século. E umdos sinais demudança, segundo o autor, é o fato de que as organizações estão começando a levar mais seria- mente as suas declarações de valores e de missões. A coerência que os administradores terão de demonstrar emrelação ao cumprimento dessas di- retrizes exigirá um esforço hercúleo. Um outro aspecto desafiador será o de reconhecer que, para as em- presas se manterem competitivas, deverão ser altamente sensíveis às necessidades e expectativas de seus empregados (Herman e Gioia, 1998). Desconfiamos que organizações que tratarem seus funcionários sem a devida consideração e respeito terão sérias dificuldades em atrair e manter os melhores talentos humanos. Sobre isto, Herman e Gioia argumentam que os trabalhadores não estão mais dispostos a fazer parte de um am- biente autoritário e desumano. Mas, se as condições não permitirem a eles imediatamente se afastar dos LTs com tais características, provavelmente na primeira oportunidade o farão. Obviamente, às lideranças caberá um papel fundamental na construção da EAT. Nesse sentido, bons líderes po- dem levar as organizações (incluindo as pessoas) ao “céu”, enquanto os maus podem levá-las ao “inferno”. Com a mesma preocupação, Thomp- son (2000) adverte que se os execu- tivos seniores compreenderem quão vital um AT espiritualizado é para as metas corporativas, eles certamente darão mais apoio ao seu desenvolvi- mento. Apropriadamente, Konz e Ryan (1999) ressaltam que a espiritu- alidade dos líderes é chave para a ELT. Segundo Frost (2003), eles podem criar uma cultura organizacional impregnada de reações compassivas, investindo nos processos de pre- paração das pessoas para responder às situações mais penosas de maneira generosa, afetiva e respeitosa. Portanto, quantomais espiritualizados os líderes forem, bemmaiores as pers- pectivas de ambientes harmonizados e equilibrados. E aí reside um desafio crucial, ou seja, o de se conhecer os benefícios da espiritualidade. Como não é matéria ainda ensinada nas escolas de administração brasileiras, caberá aos interessados empenho em dominar um assunto que não é absolutamente esotérico, hermético ou dogmático, pelomenos no que diz respeito às suas implicações morais. À guisa de sugestão, futuros estudos deveriam apurar, entre outras coisas, como as pessoas lidam com a ELT, isto é, associações, práticas, rotinas e hábitos religiosos-espirituais ado- tados para lidar com as crescentes pressões existentes, bem como os mecanismos usados no trato (1) com chefias autocráticas e (2) e com o fato de trabalhar para empresas aéticas, exploradoras e insensíveis ao bem- estar dos seus funcionários e ao meio ambiente. Quanto às lideranças, seria muito elucidativo auscultar quais são as estratégias utilizadas por esses profissionais para lidar com a fé par- ticular dos liderados e se a questão espiritual e/ou religiosa serve de inspiração nas tomadas de decisões. E para empresas, a investigação de índices de absenteísmo, turnover , burnout , satisfação no trabalho e clima, por exemplo, poderia dar uma idéia do grau vigente de ELT. 8. CONCLUSÕES Diferentemente dos padrões que até então dominaramas pessoas e organi- zações, a concepção espiritual vem romper com crenças e valores exclu- sivamente materiais, daí o seu caráter aparentemente “revolucionário”. Trata-se de uma mudança radical de paradigmas. Por outro lado, espirituali- dade não é umassunto tãonovo assim, dada a sua estreita ligação com as re- ligiões. O seu apelo é completamente voltado ao interior, à consciência, aos Anselmo Ferreira Vasconcelos 121 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M
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