Revista da ESPM JAN-FEV_2007

18 R E V I S T A D A E S P M – JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 Entrevista importantes, que vão mexer com a vida de várias pessoas, envolver risco para a empresa e, muitas vezes, não me sinto totalmente seguro, apesar de ouvir meus colegas. À noite, em casa, recolho-me e peço aDeus queme ins- pire e ajude-me a encontrar a melhor solução. Acho que isto é o máximo que se pode pedir a alguém “do outro lado” e – com toda franqueza – seria até imoral pedir mais do que isso. Portanto, como imaginar que alguém possa recorrer a forças ocultas que o ajudarão a enxergar o futuro? GUSTAVO – Em primeiro lugar, vou expor como entendo a funçãooracular no I-Ching.Opapel da funçãooracular é ajudar-nos a entender melhor a nós mesmos. No interior de cada ser hu- mano existe umsábio conselheiro que nos foi doado antes de nascer e nos acompanha a vida inteira. O grande homem ao qual é bom ouvir – diz o texto do I-Ching – é esse dentro de nós mesmos. O que esse grande homem, dentrode nós, pode fazer é possibilitar- nos compreender o presente e como melhor lidar comele, pois o futuro, do presente é que nasce. Se encaminha- mos bemo presente, despreocupemo- nos do futuro porque o presente é o que temos eficaz, disponível, possível emnossasmãos. Então cuidemos bem deleque frutos sadios nascerão.Avisão oracular não visa bisbilhotar o futuro; visa possibilitar umamaior compreen- são do presente, sabendo que é desta compreensão mais profunda que poderemos fazer nascer um futuro melhor, construído por nós porque somos nós que estamos em jogo para nós mesmos. JR – De qualquer maneira, acho que existe uma diferença bastante clara entre o ser religioso, ligado a uma crença antiga como o Cristianismo, e o outro que não tem essa ligação na própria impossibilidade que o Graci- oso definiu como “eu peço inspiração; não quero resposta”. No entanto, lemos sobre os antigos gregos que iam a Delfos e queriam uma resposta. Eu diria que numa situação mais cotidi- ana no Brasil, nas religiões de origem africana, as pessoas, muitas vezes, vão ao terreiro, perguntam e queremouvir algo mais concreto. GUSTAVO – O que há de mais concreto do que conseguir enxergar e compreender melhor o presente? O que é mais concreto, palpável, eficaz? Nesse sentido, a função do I-Ching, como oráculo, é ser um eficaz livro de sabedoria e, como um livro de sabedoria, o que ele busca é nos ajudar a compreender o que nós temos, sozinhos, dificuldade de compreender. Então o recurso à prática oracular é justamente para nos possibilitar uma ampliação de com- preensão de nós mesmos, de nossas vidas e de nossas possibilidades aqui e agora, nesse instante presente que é onde somente nós estamos vivendo. Ninguémvive emoutro espaço senão o do instante presente.

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