Revista da ESPM JAN-FEV_2007
        
 François Soulages 41 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M uma preocupação com a rigidez. De formaque, indiretamente, a imagemdos produtos da empresa está condicionada pela ética religiosa da empresa Peugeot. Ainda hoje os automóveis Peugeot têm uma imagem de robustez, seriedade e confiança, que corresponde aos valores debaseda famíliados fundadores epro- prietários. Aindamais ilustrativo é o fato de que os outros automóveis fabricados pelo grupo PSA, mas que não levam a marca Peugeot, não têm a mesma ima- gem ou natureza. Essa ética de origem religiosa tem um desdobramento em dois domínios: o humano e o de produtos. Por humano entendemos os membros da família, administração e as relações entre fun- cionários.Dessa forma, paracadamem- bro da família, trabalhar para a empresa significa trabalhar para uma entidade que vai além, à qual ele deve servir, e não da qual deve se servir. É preciso dar o exemplo e buscar a excelência, não para se valorizar de forma narcisista e vaidosa,masparaoengrandecimentoda empresa. Cada membro tem deveres, e não direitos, ele(a) lá está não para fazer carreira, mas para permitir à empresa continuar a existir e se desenvolver. O dinheiro não é um fim em si, mas um meio, e deve ser reinvestido dentro da empresa, ou em seu favor. Trabalhar na Quais os laços existentes entre a logomarca e o conjunto de valores da empresa? Aparentemente ambos pertencem a mundos diametralmente opostos: o primeiro remete ao produto e à imagem que se quer transmitir, enquanto que os valores devem orientar a empresa (seus funcionários). F empresa familiar é umverdadeiro sacer- dócio; em família pode-se até mesmo nãoestar deacordo,mas épreciso saber seentender paraagir emconjunto. Esses valores respeitadospor todos sãoa razão da longevidade da empresa Peugeot e de seu sucesso. É graças a eles que os membrosdirigentes têmuma linguagem em comum, e um sistema de comuni- cação 2 notável que, por sua vez, são indispensáveisparaa formadeconduzir o dia-a-dia da empresa: as dificuldades, planejamento para o futuro, táticas e estratégias. É tambémgraças aos valores que os dirigentes não precisam perder seu tempo questionando o sentido de sua atividade, podendo se dedicar às questões técnicas, com pragmatismo. Aenergiade todos é, então, empregada de forma eficiente. A ética protestante repercute também sobreas exigências administrativas e so- bre a organização interna da empresa, variando de um paternalismo respei- toso e burguês até a um humanismo avançado, de acordo com a época. As relações dos trabalhadores com o produto, e entre eles próprios, são pautadas pela exigência de respeito e seriedade; daí o amor pelo trabalho bem feito e pelo objeto (no caso o au- tomóvel) fabricadoperfeitamente, além do sentimentode responsabilidadeque cada um deles tem face à qualidade do produto. Poderíamos aqui aplicar a análise weberiana sobre a ética da responsabilidade. Temos então que homens, organização e produtos sãomarcados por essa ética. Sem que a Peugeot seja uma empresa religiosa, ela é influenciadapela religião protestante devido à ética presente na sua base e na estrutura desde a origem.
        
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