Revista da ESPM JAN-FEV_2007
46 R E V I S T A D A E S P M – JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 Notas sobre religião e empresa no caso Odebrecht NOTAS SOBRE RELIGIÃO E EMPRESA NO CASO É bastante conhecida a equação, desenvolvida por Max Weber, que articula ethos religioso e formação da “legitimação racional” da em- presa capitalista. Ao insistir que a racionalidade econômica dependia fundamentalmente da disposição dos sujeitos em adotar certos tipos de conduta, Weber lembrava que nunca haveria capitalismo sem a internalização psíquica de uma ética protestante do trabalho e da convicção, estranha ao cálculo utilitarista e cuja gênese deve ser procurada no calvinismo. Ética esta que Weber en- controu no ethos protes- tante da acumulação de capital e do afastamento de todo gozo espontâ- neo da vida. O trabalho que marcava o capitalis- mo como sociedade de produção era um trabalho que não visava, exata- mente, ao gozo do serviço dos bens, mas a acumu- lação daqueles que: “não retiram nada de sua riqueza para si mesmo, a não ser a sensação subjeti- va de haver ‘cumprido’ devidamente a sua tarefa”. No entanto, essa acu- mulação não deve ser compreen- dida como sendo impulsionada por alguma lógica claramente egoística e individualista. O dado central é que os processos de acumulação não são feitos em nome do enriquecimento futuro e da vida frugal. Pois o tra- balho é aqui função primeira de uma certa ética da convicção que faz com que atividades materiais apareçam como expressão de uma “vocação”. Vocação esta que deve ser compreendida como o resultado de um “chamado” que, para uma lógica absolutamente utilitarista, pode parecer irracional. Weber chega a falar em uma “sanção psi- cológica” produzida pela pressão ética e satisfeita através da rea- lização de um trabalho como fim em si, ascético e marcado pela renúncia ao gozo. O que o leva a insistir que : “O summum bonum desta ‘ética’, a obtenção de mais e mais dinheiro, combinada com o
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