Revista da ESPM JAN-FEV_2007
Vladmir Safatle 47 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M estrito afastamento de todo gozo espontâneo da vida é, acima de tudo, completamente destituída de qualquer caráter eudemonista ou mesmo hedonista”. Ou seja, ela não legitima hedonismo futuro algum. Daí por que todos nós conhece- mo s a história desses in- dustriais do s é c u l o XIX cuja vida pessoal era ex- tremamente frugal e desprovida de grandes aspirações de consumo. Tendo tal equação entre ethos religioso e empresa capitalista em mente, podemos estabelecer algu- mas hipóteses a respeito de modos de funcionamento e legitimação de certas empresas determinantes na configuração do capitalismo brasileiro. Uma delas é o grupo empresarial Odebrecht, cujas duas maiores empresas (Construtora Norberto Odebrecht e Braskem) são líderes latino-ameri- canas nos setores de engenharia e petro- química. Esse é um exemplo privi- legiado na medida em que, en- quanto empresa familiar, o grupo empresarial Odebrecht guarda uma relação sempre atualizada com seus mitos fundadores. Mitos esses que, de uma maneira ou de outra, procuram servir de fundamentos de narrativas que visam opera- cionalizar uma dinâmica de em- prendedorismo e ética do trabalho vinculada às raízes protestantes da família. Fundada em 1944, a empresa confunde sua história com a história da imigração alemã no Brasil, já que o patriarca da empresa chegara ao Brasil em 1856, no Vale do Itajaí
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