Revista da ESPM JAN-FEV_2007

Ives Gandra 59 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M JR – Jesus expulsou os vendilhões do templo–terásidoporqueespiritualidade e negócios não se misturam? IVES GANDRA – Jesus convivia bem com ricos; dois de seus melhores ami- gos eram cidadãos abastados – José de Arimatéia e Nicodemus – que foram inclusive os que tiveram a coragem de acompanhar, quando o corpo desceu da cruz e foi enterrado. Ele expulsou os “vendilhões” do templo. Eram aqueles quesemética, semreligiosidade, faziam de Deus um negócio. Mas ele não foi contrário aos negócios feitos com a ética e teve amigos de todas as catego- rias sociais, inclusive empresários. Estou convencido de que, entre os vendilhões dos templos e Nicodemus e Arimatéia, que tambémeramnegociantes, há uma profundadiferença.Eleexpulsouaqueles que exploravama imagemdeDeus, ele não disse que os negócios, em si, eram ruins, mas conviveu com todos. JR – Como você vê a questão da espiri- tualidadenosnegócios–no trabalho, na profissão–eaética?Sãocoisasdiferentes ou não? IVES GANDRA – Não é que não sejam diferentes, mas se complementam. Não há religião sem ética, nem existe o ser não-ético. Ética vemde ethos , que quer dizer costumes, bons costumes na Gré- cia.Moral vemde mores , costumes tam- bém, comumsentidomais pragmático, emRoma; aéticadosgregoseramaises- peculativa e filosófica; mas, na verdade, ambas referem-se a bons costumes. Se nós examinarmos a origem das duas expressões, vamos verificar que estão sempre vinculadas a virtudes humanas e, de certa forma, a valores religiosos. Quase todososfilósofos,naGrécia, fala- ram em ética. Não só os pré-socráticos, mas,fundamentalmente,ostrêsgrandes, Sócrates, Platão e Aristóteles. Vamos verificar que Platão e outros – sempre que falaram de moral, direito ou de ética – vincularam tais ciências, direta e indiretamente, aos deuses, à especial religiosidade, visto que tinhama visão de que havia alguma coisa superior ao ser humano. E é interessante notar esse respeito ao divino. Por exemplo, Sócrates, nos quatro diálogos de seu processo (Eutifron, Apologia, Crito e Fedon), ele fala nos deuses. Nestes últimos, quando já está condenado à morte, que devia respeitar a vontade dos deuses. No quarto diálogo ele se refere à importância da morte e, no “OPRÓPRIOMOVIMENTODEQUEEUPARTICIPO – O OPUSDEI – FOI OPRIMEIROQUEOBTEVEDASANTASÉ ODIREITODERECEBER, ENTRESEUSCOLABORDORES, PESSOASDEOUTRASRELIGIÕES.”

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