Revista da ESPM JAN-FEV_2007
62 R E V I S T A D A E S P M – JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 Entrevista zente com o sucesso empresarial”. Até que ponto isso teria fundamento? IVES GANDRA – Indiscutivelmente, você se refere a Lutero e principalmente a Calvino, que acha que “o cidadão bem-sucedido seria na vida um sujeito agraciado por Deus”. É praticamente a ética protestante que provoca a contra- reforma dos jesuítas etc., e ocorre num período em que, de fato, houve uma certa desestruturação do catolicismo, da igreja católica. A visão da época de que os valores espirituais estariam em conflito com os valores de vida comum, de vida ordinária é um pouco equivocada. Você pode, perfeitamente, ser umexcelente profissional, umexce- lente empresário e acreditar no espírito. Uns 300 anos antes de Constantino, todo católico tinha a sua profissão e, no próprio Evangelho, se você anal- isar nos atos dos apóstolos, verá que todos os cidadãos ali apresentados são profissionais. Paulo diz: “nunca precisei deixar de trabalhar para viver, ninguém precisoume sustentar, eu era fazedor de tendas”. Cristo era conhecido como o filho de ummarceneiro e queria ser um bom marceneiro, para ser reconhecido como um sujeito competente no que fazia.Osprotestantesaproveitaramesses ensinamentos dos primeiros anos do cristianismo. Na Idade Média, forma-se uma concepção – que não era total- mente incorreta, mas era parcial – de que a única forma de você santificar-se, na vida, era saindodomundo. Surgiram os anacoretas, os conventos eocidadão normal, como você e eu – não passava disso.Criaram-sedoismundos.Poroutro lado, o próprio Vaticano tinha os seus estados pontificiais, o que trouxe uma certa confusão, própria não da religião, mas da percepção dos homens. Mas houve um retorno ao cristianismo origi- nal, dos primeiros 300 anos, daqueles “UM LEIGO É TÃO IMPORTANTE QUANTO UM SACERDOTE, QUALQUER QUE SEJA SUA ATIVIDADE.”
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