Revista da ESPM JAN-FEV_2007
Ives Gandra 65 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M e, em minha opinião, se estende por falta de valores – na medida em que você tem capacidade de enfrentar com valores, você dá um instrumento da pessoa poder desistir; no momento que você diz que “Deus não existe, tudo é válido...” É evidente. JR – Nosso grande maestro, Tom Jo- bim, recentemente falecidodiziameio brincando meio sério que “no Brasil tudo se perdoa, menos o sucesso”. O nosso Presidente, por exemplo, valoriza os pobrezinhos e critica as elites.Mas,arigor,eliteéoqueháde melhornasociedadeepobreéo carente, oquedeixade ter al- guma coisa. Lembra-se do livro Opaís dos coita- dinhos do Emil Fa- rah? Será que nós es t amos condena- dos ao fra- casso? IVESGANDRA –Acho que não. Mas vamos levar mais tempo, porque temos uma série de distorções na concepção do Estado, no Brasil. O que o Presidente Lula diz, ele necessariamente, não acredita, não acredita mesmo. Mas o fato é que, no Brasil, sempre damos muita importância ao papel do Estado Protetor – o Brasil não tinha povo e já tinha divisão territorial e capitanias hereditárias. JR – Uma administração que prece- deu a povoação. IVES GANDRA – Tanto é verdade, que na maioria dos estados você é chamado de “cidadão” e, aqui no Brasil, de “administrado”. No nosso Direito você não é cidadão, você é administrado, há um ad- ministrador público e você é administrado por ele. Os adminis- tradores públicos são os donos do poder sobre quem o Faoro escreveu. Isto leva a um discurso que nem sempre corresponde à realidade. O Lula sabe perfeita- mente que, sem as elites, ele não vive. Qual é a política monetária do Lula para manter o superávit primário? É uma política que só beneficia quem tem capital, os mais beneficiados do governo do Lula são os que têm capital e – em minha opinião – corre- tamente; se ele não fizesse uma política monetária assim, nós não conseguiríamos baixar o risco-Brasil. Mas ele quer convi- ver com to- dos – com os radicais d o M S T, com os bu- rocratas do PT (que fa- zem com que a má- quina adminis- trativa não se reduza nunca) e com todas as classes empresariais. O Fur- lan é um homem de empresa, o Meirelles é banqueiro, foi presidente do Banco de Boston. Então, na prática, o discurso é popular. Mas as ações têm tido certa sensatez. Veja que o Lula é convidado ao Fórum de Davos e o Hugo Chavez não, porque irá lá fazer política pois não têm o que dizer. Na prática, não há capitalista mais selvagem do que o Chavez nem cidadão mais inimigo do povo do que
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