Revista da ESPM JAN-FEV_2007
Ives Gandra 67 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M IVES GANDRA – Quando se diz “pre- cisamos reduzir a carga tributária”, deve-se refletir que, se não reduzir a carga burocrática, não vou reduzir nunca a carga tributária – e isso está vinculado à ética. Quando o ci- dadão – aquilo que emDireito Penal se chama de Estado de Necessidade – não tem outra alternativa senão se se admite até a morte por estado de necessidade, isso é admitido como um ato de sobrevivência, ou o roubo em Estado de necessidade comprovado, também. Na verdade, se nós não diminuirmos o tamanho do Estado – estou absolutamente convencido – o Brasil vai ser um país marginalizado. Thomas L. Friedman, no seu livro, mostra um dado que, em 1992, a Índia era um Estado absolutamente semelhante ao brasileiro; mas começaram a ganhar eficiência, porque depois de diminuída a “máquina”, todos os outros setores melhoraram. No Brasil, não se tem a mentalidade de servidor público, não há car- reiras públicas, a não ser algumas como magistrados, militares, corpo diplomático etc. A máquina está inchada, não só por concursos pú- blicos, mas pelos “amigos dos reis”, aqueles que vão conseguindo. Claro que isto prejudica muito a ética empresarial por que as empresas são obrigadas a fazer determinados acordos, senão não sobrevivem. O que chamo de concussão está no Código Penal Brasileiro. Voltando à religiosidade, o Cidadão, em- presário que tiver uma formação religiosa e uma formação ética terá mais condições de fazer as opções certas e – ao mesmo tempo – de expor menos a empresa, do que aquele que não tem escrúpulos e não tem limites. Porque há outro dado que tem de ser levado em con- sideração: muitas vezes nessa luta por competitividade, do “vou cor- romper, vou comprar, tudo é válido etc.”, vão se deixando rastros que o Ministério Público ou uma fiscaliza- ção pegando, podem destruir uma empresa. Há casos recentes, nos Estados Unidos, da Arthur Andersen, que era uma das maiores auditorias do mundo e desapareceu por ter dado um laudo incorreto no caso da Enron. A ousadia muito grande na competição sem escrúpulo deixa rastro e torna mais vulnerável. JR – Mas você está citando os Estados Unidos. E aqui? IVES GANDRA – No Brasil também, a toda hora há demonstrações de empresas, que resolveram ser mais ousadas e quando se descobre... – temos um caso recente noTribunal Regional de uma empresa seríssima e respeitada... JR – Eu tinha um tio que dizia: “Olha meu filho, é melhor ser honesto, nem que seja por malan- dragem”. IVESGANDRA – É muito possível que, sob certas circunstâncias, a maior falta de ética é ser ético, porque se você leva uma vantagem enorme, todas as ponderações são feitas medindo riscos e refletindo: “se eu não posso deixar de concorrer, é a regra do jogo, não há como”, então é um caso de concussão. Agora, se eu posso adotar critérios que sejam de competitividade, de valorização – não só nas relações de competi- tividade, mas também nas relações sociais com os empregados. Hoje, um dos grandes problemas que se coloca é exatamente essa convivên- cia com o empregado; o empregado não é uma peça de uma máquina, mas um cidadão, com formação ética e religiosa... JR – Acho importante esse seu ex- emplo, porque expressa sua confi- ança no poder do indivíduo de, de fato, influenciar as coisas – através da sua convicção, da sua ética, das suas crenças... IVES GANDRA – Estou convencido disso. Eu nunca tive ambições políti- cas. Fui presidente de um partido político, o PL, até 1965. Depois do Ato Constitucional n o 2, o PL, aqui em São Paulo, nunca mais fiz políti- ca; fui convidado para Ministro, Secretário de Estado, Secretario Mu- nicipal, não aceitei; convidaram-me para Desembargador, na época era o Tribunal que convidava, não aceitei. Queriam que eu saísse candidato à Senador, eu não aceitei porque não sou político, mas apenas advogado; tenho consciência, gosto de lecio- nar, gosto da reflexão política – e sendo um cidadão commentalidade social, escrevo permanentemente em jornais da cidade... “NA MÁFIA, SE VOCÊ DEIXAR DE SER LEAL, VOCÊ É MORTO.”
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