Revista da ESPM JAN-FEV_2007
Livia Barbosa 81 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M Paralelamente a esta dimensão mate- rial, tecnologias gerenciais estimulam o auto-conhecimento, o desenvolvi- mento das pessoas, a intuição e a criatividade, fortalecendo o “eu” inte- rior de cada um de nós. Caminhadas sobre brasas podem coroar toda uma jornada de trabalho combinadas a exortações emocionadas do tipo “eu posso” ou “eu sou capaz”. Como fazer sentido desta conjugação íntima entre racionalidade econômica, objetivi- dade, mensuração e performatividade – ideologias oficiais das empresas e dos negócios – com intuição, energia, e outras múltiplas expressões de espi- ritualidade e esoterismo? Uma resposta irônica e radical poderia ser que a complexidade atual dosmer- cados e da sociedade contemporânea e a comoditização crescentes dos produtos e serviços teriam levado as empresas a apelarem para tudo e qualquer coisa a fim de sobreviverem e continuarem lucrativas. Uma postura mais analítica, contudo, sinalizaria para “variáveis” que passam ao largo dodesesperoempresarial e enveredam fundo emnovas ideologias, mudanças epistemológicas e transformações culturais que atravessam a vida das sociedades modernas. Antes de as analisarmos e as suas tra- jetórias e conseqüências no universo dos negócios e empresarial, se faz necessária uma relativização acerca deste próprio universo a partir das es- pecificidades que lhes são atribuídas. Nenhumuniverso social é organizado rigidamente em torno de uma única ética, de uma única lógica e/ou de um único valor. Não existe homo- geneidade substantiva e absoluta. Todos são compostos de elementos contraditórios e heterogêneos. O que diferencia os diferentes universos so- ciais entre si são as ênfases colocadas sobre dimensões particulares que lhes conferem especificidades. No caso domundo dos negócios e das empresas, aquilo que lhes é atribuído como constitutivo e estrutural, ou seja, seus atributos centrais são, na realidade, unicamente as lógicas, as éticas e os valores mais enfatizados simbolicamente e o como da prática social. Isto, no entanto, não significa a ausência de e nem impede ações e comportamentos pautados por princípios que lhes são inteiramente contraditórios. Basta um olhar mais atento sobre o mundo dos negócios e empresarial para que todo este cas- telo de objetividade, racionalidade, performatividade, entre outros, seja abalado. Por exemplo, o que dizer da decisão deHenry Ford de despedir Lee Iacocca, justamente no primeiro ano em que a Ford deu lucro após anos
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