Revista da ESPM JAN-FEV_2007
Livia Barbosa 83 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M aquilo que conhecemos. Conhecer é experimentar. A NE é, portanto, um movimento que renega a tradição e as suas vozes, embora reconheça a existência de uma sabedoria e ver- dade universais subjacente sob os ensinamentos das diferentes religiões tradicionais. Para o New Ager o que importa é o arcano, o esotérico, a sabedoria escondida e imemorial, a tradição secreta. Por isto esta volta ao budismo, ao paganismo, à cabala, a Jung e ao esoterismo. A Nova Era tem uma origem con- troversa, mas certamente está ligada ao movimento de contra-cultura da década de 1960. Ela sofre influências diversas, mas as mais importantes são as da filosofia e religiões do oriente, do individualismo ocidental, da neuro-linguística e do ecologismo. Ela procura legitimar os seus ensinamen- tos invocando as descobertas da ciên- cia contemporânea, principalmente da física subatômica e da matemática do caos. O Tao da Física e o Ponto de Mutação, de Fritjof Capra são dois livros extremamente populares que exemplificam esta busca por legitimi- dade na física. A ênfase da Nova Era na espirituali- dade interior representa um verda- deiro rompimento com a teodicéia ocidental, baseada em um Deus transcendente. Na versão Nova Era a fonte da espiritualidade encontra- se sempre no nosso interior. Somos todos deuses e deusas em exílio. É o nosso Deus interior e a nossa capaci- dade de conectá-lo com o mundo exterior que faz com que a energia do universo conspire contra ou a nosso favor, levando-nos ao sucesso ou ao fracasso. A transcendência é substituída pela imanência. Para alcançarmos esse processo de conexão, precisamos libertar nosso eu interior. A educação que recebemos de nossos pais, espiritualmente desin- formada, faz com que continuemos a repetir os mesmos vícios e erros que acompanharam as diversas gerações anteriores e que coibiram o desen- volvimento de nossas possibilidades interiores. Por isso é que a nossa vida não funciona como deveria. Somos capazes de tudo desde que libertemos o “nosso deus interior” – a fonte do conhecimento e da verdade. O rompimento com este círculo vicioso ocorre quando deixamos o passado ir embora. “Let it go” e “deixar fluir” são dois mantras da New Age e referem-se a psicotecnologias de fazerem os velhos padrões serem substituídos por novos que envolvem rituais deDescartes, de limpeza ambi- ental, perdão, desapego, reformulação do pensamento e do uso de fórmulas lingüísticas, às quais se atribuem o poder de mudar a nossa mente. Louise Hay é a papisa desta última modalidade.Afirmações relacionadas aosmeus desejos são feitas a toda hora para nos ajudar a mudar os velhos padrões mentais que nos impedem e impedem o universo à nossa volta de acontecer. Para esta autora tanto a prosperidade como a falta dela é uma expressão das idéias e pensamentos que temos dentro de nós. Um outro bom exemplo é o Erhard Seminar Training (EST), especializado emnegó- cios, que começa, justamente, ques- tionando a vida de cada um de nós e afirmando que “a razão pela qual nossas vidas não funcionam é porque estamos vivendo mecanicamente em vez de autenticamente no mundo da experiência”. Esta ênfase em uma espiritualidade interior faz com que uma das carac- terísticas centrais da NE seja a sacrali- zação do self . Este é baseado em um individualismo não mediatizado do tipo “eu sou a minha própria fonte de autoridade”, que dispensa intérpretes
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