Revista da ESPM JAN-FEV_2007
88 R E V I S T A D A E S P M – JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 Descendo a la- deira, Sísifo se distraiu com a paisagem e conseguiu tirar algum prazer desse percurso. Che- gou à planície renovado, pronto para retomar a tarefa e ligou para o número que lhe tinha sido fornecido. O peso aumentou mais uma vez quando ouviu “digite o seu código” e percebeu que não seria possível colocar a mão no bolso para pegar essa informação sem de i xar a pedra cair mais uma vez. Suspi- rou aliviado quando descobriu uma maneira relativamente simples de evitar esse obstáculo. Tirando forças do mais profundo do seu ser empurrou mais um pouco, até ouvir com deses- pero que se tratava de uma opção inválida. Segurando a pedra com os pés, pa- rou e se refrescou como pôde, com a ajuda de um lenço. Fez verdadei- ros malabarismos e até recorreu a contorções. Reconfortou-se por um instante ao escutar do outro lado da linha uma voz humana, que parecia relativamente interessada em saber o seu nome, endereço e outras infor- mações de cunho pessoal. Chegado um ponto da conversa, no entanto, voltou a sentir todo o peso da sua existência nas costas. A informação que desejava não estava ao alcance desse homem tão simpático que o tinha atendido e que agora se dispunha a dar apenas um último empurrãozinho, recomendando-lhe que conversasse a respeito do seu problema com outro indivíduo mais esclarecido. Após alguns segundos com o bloco ameaçando cair, Sísifo deu de cara com o ponto mais alto da desilusão que iria acometê-lo nessa jornada. Ouviu um som estranhamente fa- Segurando a pedra com os pés parou e se refrescou como pôde, com a ajuda de um lenço. Fez verdadeiros malabarismos e até recorreu a contorções. F A voz lhe disse que não havia maneira de acabar com a sua dúvida naquele momento. Olhou com resignação a pedra de- sabando mais uma vez. Na descida, no entanto, a persistência daquele som humano voltou a acometê- lo, oferecendo-lhe um pingo de ilusão: “o Sr. está me ouvindo? Vamos verificar o seu caso, anote este número e ligue daqui a uma semana para se in- formar sobre o resultado.” F miliar, mas não conseguiu descobrir quem é que estava falando. A voz lhe disse que não havia maneira de acabar com a sua dúvida naquele momento. Olhou com resignação a pedra desabando mais uma vez. Na descida, no entanto, a persistên- cia daquele som humano voltou a acometê-lo, oferecendo-lhe um pingo de ilusão: “o Sr. está me ouvindo?Vamos verificar o seu caso, anote este número e ligue daqui a uma semana para se informar sobre o resultado.” Nemmais se lembrava de que resultado se tratava, mas ainda assim foi recobrando aos poucos a respiração, o sorriso e a fé no futuro. Ao chegar ao pé da montanha, sentou-se numa pedra e observou o pôr-do-sol. Uma estranha felicidade o invadiu ao ouvir o seu celular tocando. Atendeu com entusiasmo e escutou: “É o Sr. Sísifo? Estou ligando da companhia de seguros. O Marketing da complexidade
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