Revista da ESPM JAN-FEV_2007
90 R E V I S T A D A E S P M – JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 sua inteligência, era capaz de burlar os desígnios dos deuses, Sísifo não abre mão do sabor de aventura que aprendeu a desfrutar nas suas an- danças pelas várias facetas da mon- tanha, através de recursos criados passo a passo, na convicção de que o caminho se constrói ao mesmo tempo em que se anda. Procura, ardorosamente, a felici- dade através de bons investimentos interpessoais, no amor, no trabalho ou outros tipos de encontro. Talvez em função ele se identifique com ações de marketing de relaciona- mento e estabeleça ummarketing de permissão, quando entende que isso pode ser vantajoso ou até naquelas ocasiões em que as condições ade- quadas para não autorizá-lo não lhe foram oferecidas. Empreendedor como sempre foi e partícipe de uma sociedade frag- mentada em que os antigos referen- ciais se evaporam a cada dia, continua criando novos meios de inserção e referencialidade para fortalecer a sua sensação de estar em contato com o mundo, de fazer parte de algo maior, entusiasmando- se fervorosamente com ações de marketing lateral. Testemunha da falência do modelo economicista – que dividia os atores sociais em classes –, Sísifo transita por grupos em que atores sociais cada vez mais plurais e móveis não param de se deslocar, tanto do ponto de vista concreto quanto do simbólico, vibrando diante das pos- sibilidades advindas de uma vida mais plural e deslumbrando-se ao descobrir possibilidades totalmente novas. nas mídias tradicionais e ouve com maior dedicação as opiniões dos seus semelhantes do que os anún- cios divulgados pelos responsáveis pelas marcas que consome. Devido às inúmeras experiências já re- latadas, antes de contratar um novo serviço apela ao marketing viral, na tentativa de descobrir o que outras pessoas acharam do atendimento da empresa. Se por um lado, gosta de ousar, vivenciando aventuras alavancadas pelos poderes que lhe outorga a tecnologia, na tentativa de se rebelar contra as excêntricas determinações divinas, por outro, conta sempre com a possibilidade de retornar à zona de conforto, ao espaço prote- gido, aconchegante, confortável e extremamente aparelhado que repre- senta o lar, gerador de sensações se- melhantes às de um marketing mais tradicional e menos exuberante. Incrementa o espaço doméstico e se sensibiliza quando percebe que alguns estabelecimentos comer- ciais lhe oferecem, por exemplo, a chance de repor energias com uma soneca após o almoço, servindo de inspiração para o marketing de sensações. Sabe-se um nostálgico da segurança outorgada pelo passado, onde nem tudo que era sólido desmanchava no ar, dos tempos em que acreditava na existência de territórios bem defini- dos e supunha saber perfeitamente qual pedra iria cair e de onde viria. Omedo da violência física estende- se ao campo virtual quando abre o seu e-mail e se depara com cavalos de tróia, mail bombs , smurfs , sniffers e spoofings ou, no melhor dos casos, apenas um par de spams . Talvez seja por isso que o deslumbramento inicial provocado nos seus sentidos através de ações de hipermarketing se alterne com a necessidade de se proteger, evitando ao máximo sair de casa e criando ambientes cada vez mais equipados e aconchegantes ou até blindando o seu carro num sinal inequívoco da sua carência de experiências mais prazerosas e acolhedoras. Essa contradição o leva a transitar percursos conhecidos com uma avidez inestimável, convicto de que a aventura do descobrimento não consiste em conhecer novas paragens, mas observar as antigas com olhos renovados. Saudoso da segurança mítica que o confortava na origem, quando, usando apenas a O medo da violência física estende-se ao campo virtual quando abre o seu e-mail e se depara com cavalos de tróia, mail bombs , smurfs , sniffers e spoofings ou, no melhor dos ca- sos, apenas um par de spams. F O Marketing da complexidade
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