Revista da ESPM JAN-FEV_2007
Valéria Ravier 91 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M Ao reinventar a sua participação transita com segurança entre comu- nidades reais e virtuais. Faz do con- sumo um instrumento de definição de identidade, confortando-se com a semelhança das suas próprias vivên- cias e os hábitos de muitos outros que, como ele, investem em práticas religiosas, engajam-se em ONGs e participam de grupos no orkut, aderindo ao marketing concentrado e ao marketing por afinidade. Circula também pelos espaços com uma avidez nunca antes experimen- tada, estabelecendo um convívio mais democrático com ambientes e objetos. Está pronto para ousar, tentar e voltar a insistir em todos os campos, aproximando-se, nesse ponto, do marketing empreendedor. Esporádicas faltas de ousadia levam- no a sentir saudade da segurança que confortava os seus ancestrais, menos vacilantes em relação ao significado dos seus papéis sociais. Apesar de se voltar para o marketing profissiona- lizado e sonhar com as ofertas do marketing de massa nesses saudosos momentos, nem por isso deixa de valorizar intensamente a possibi- lidade de transitar, subjetivamente, entre os diversos personagens que constrói ao longo do seu cotidiano, cedendo, facilmente, aos apelos do marketing de customização e do Confortando-se com a semelhança das suas próprias vivências e os hábitos de muitos outros que, como ele, investem em práticas religiosas, engajam-se em ONGs e participam de grupos no orkut, aderindo ao mar- keting concentrado e ao marketing por afinidade. F marketing one-to-one . Ansioso para se destacar e dotado de ferramentas tecnológicas inacreditáveis, ele cria e transforma símbolos e objetos ao seu redor. Singulariza sempre que possível e exige ser tratado como alguém especial e único. Circulando entre o real e uma vir- tualidade totalmente introjetada, o Sísifo contemporâneo gostaria, sob certas circunstâncias, de estar à frente de um computador, vendo a pedra cair e subir com apenas um clicar do mouse , sonhando acor- dado com o dia em que o marketing de experiências on-line esteja mais desenvolvido. Enquanto isso recorre a toda tecnologia que está ao seu al- cance para se sentir mais poderoso: celulares que fotografam, palms que lhe garantem o acesso à inter- net seja lá onde estiver, lentes de contato especiais para jogar golfe, que potencializam a visibilidade no campo, capacetes e óculos capazes de reproduzir a sensação de estar vi- venciando de fato as experiências da realidade virtual, contribuem para alimentar esse sonho, gerando-lhe o paradoxo de se sentir oprimido com tanta interconexão. Espera e teme que a tecnologia possa um dia lhe proporcionar um trânsito ininterrupto, enquanto isso se vale de todo e qualquer recurso que estiver ao seu alcance para se sentir turbinado, surpreendendo-se vez ou outra com aquelas estraté- gias mais criativas do marketing de guerrilha. A escassez temporal, associada à velocidade cada vez maior que a tecnologia imprime à sua vida, provoca-lhe a sensação de que cada
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