Revista da ESPM JAN-FEV_2007
97 JANEIRO / FEVEREIRO DE 2007 – R E V I S T A D A E S P M Sobre espiritualidade trabalho em equipe e, portanto, o resultado da própria empresa. É uma questão de linguagem. Se falamos em liderança mais sábia, estamos falando em espiritualidade. Se fala- mos, por exemplo, de sensibilidade em relação à responsabilidade social, estamos falando de uma postura espiritual em relação às carências e necessidades da socie- dade que nos rodeia. Então a prática espiritual é própria do ser humano, embora ele não saiba e nem defina isso como tal. Em recursos humanos, por exemplo, uma coisa é desen- volver habilidades técnicas, adminis- trativas; mas outra é desenvolver a sutileza do toque, o know-how nos relacionamentos. É possível, tam- bém, mostrar como a espiritualidade entraria no planejamento estratégico de uma organização. Por exemplo, desde os anos 70, existe o modelo do “iceberg”. O problema sempre é tentar fazer mudança mexendo com o visível: tira isso, coloca aquilo, in- veste dinheiro em tecnologia, muda o sistema, comunicação, contrata gente, mas se esquece de que as pessoas podem sentir que aquele plano não é bom ou não crêem que vai funcionar. Há de se trabalhar a parte mais intangível do “iceberg”. O planejamento integral – onde não se planejam apenas estruturas e sistemas, mas também os corações. Gestão não é apenas um exercício de mexer com a administração e tec- nologia; mas mexer, principalmente, com gente. Hoje em dia, há o con- ceito de inteligência espiritual – que vai um passo além da inteligência emocional; ou seja, precisa-se da in- teligência racional para mexer com coisas, inteligência emocional para mexer nos relacionamentos, mas inteligência espiritual para entender a si próprio e organizar o seu estado interior naquilo que se faz racional e emocionalmente. GRACIOSO – Ouvindo-o, fiquei com a impressão de que você procura demonstrar que a espiritu- alidade na empresa pode ser útil à própria empresa. KEN – Extremamente útil. Em todas as pesquisas que conheço, onde há um convívio humano mais agradável, os resultados são melho- res. As pessoas mais qualificadas querem trabalhar em tais empresas; há menos rotatividade; redução de custos médicos porque as pessoas são mais felizes; a produtividade aumenta, mas principalmente o custo operacional cai, porque há mais cooperação. As reuniões ten- dem a ser mais rápidas, às vezes, porque as pessoas tendem a estar mais cooperadas e os egos não exaltados. Tivemos uma experiên- cia – na empresa do Rodrigo, por exemplo – onde reduziram o custo operacional, simplesmente pela in- trodução e prática de valores. JAIR – Esse tema da espirituali- dade nos negócios não é novo. Se procurarmos, na nossa vivência profissional e pessoal, os melhores líderes que tivemos, vamos perceber que sempre tiveram uma dessas características que foram citadas. São líderes mais tranqüilos, têm nível de consciência diferente, são cooperativos e não competitivos. Normalmente é uma organização ou estrutura onde as pessoas têm a mesma imagem, trabalham a partir de uma mesma cultura, mesmos valores e mesma referência. E é interessante na linha da pesquisa que o Ken cita – essas empresas, às vezes, transcendem no tempo, além daquelas pessoas que a fundaram. São empresas onde a iniciativa é muito presente, e essa palavra – ini- ciativa – está ligada a um conheci- mento antigo, dos antigos iniciados. Ou seja, o executivo que trabalha hoje para uma grande corporação, ou gera um grande movimento, faz o papel de um grande iniciado porque ele conduz grandes grupos em direção a alguma coisa que trará uma contribuição. Um desserviço a esse tema é quando trazemos, para dentro da organização, a questão da religiosidade. Religiosidade, para mim, são vertentes de um conhecimento maior que, no fundo, vão desaguar no mesmo oceano. Es- tamos falando aqui de livre arbítrio, aumento da consciência, verdade, bondade. Hoje, organizações que conseguem implementar esses valo- res estão-se diferenciando diante do mundo competitivo. As notícias que vemos não são do bem; são do mal. Mas existe tanto bem sendo feito por aí e, às vezes, está ancorado numa questão muito concreta, que é dar resultado – gerar alguma coisa sau- dável para a empresa, o mercado, a comunidade. Mas o tema, às vezes, confunde. Escrevi um livro sobre espiritualidade, procurei algumas editoras e uma delas disse: “O livro está muito bom, mas daria para mudar o nome? Queremos algo como Aumente sua lucratividade com a espiritualidade ”. CHRISTIAN – Quero parabenizá-los pelo tema, porque falar de espiritua- lidade na era da globalização é jogo duro. Em primeiro lugar, quando falamos em espiritualidade, no fundo, é a busca de um sentido
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